terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Outro blog

Inliterários e etc 
Blog assinado pela Bruna Landim
entrem e dirvitam-se!

Ano novo e tempo velho

Parece que quando a gente se torna um pouco velho mais essas datas comemorativas: natal e ano novo, perdem seus sentidos. A inocência de acreditar em um papai noel ou em esperar ansiosamente pelos presentes dos amigos secretos, resume-se a perceber pequenas pitadas de mesquinhez, de angústia e gastos com dinheiro.

Não esqueço da Tia J., mais velha, sentada com um vestido azul prateado, que só é vestido e preparado nessas épocas, e um novo penteado para tornar-se mais bela e especial nesse novo ano que vai entrar como um ponto de partida para um recomeço. Um processo de esquecimento da história que ela viveu até agora, com o seu marido que sofre com alcoolismo e seus filhos que insistem crescer depressa sem ela sequer ter a oportunidade de pentear o cabelo do menino de lado ou fazer uma trança para combinar com o vestidinho rosa da sua menina. Tia J. suspira silenciosamente sua angústia e toma um champanhe sorrindo com tal graça de jilô mal feito, ela chega, então, a dolorosa sensação que perseguia com bastante frequência ano passado: todo dia é dia para envelhecer.

Olho, com delicioso, cuidado e vejo frutas que são devoradas por quase todos convidados, mas comidas e carnes tão bem cozinhadas pelos anfitriões que mal são vistas por eles e visitantes. Eu também passo pelo banquete e finjo não notar a presença de tantos alimentos, sorrio, tomo mais um refrigerante e roubo da mesa algumas uvas. Ao lado, um casal namorando despreocupadamente e esperando a hora de explodir os fogos, os beijos e a meia-noite, sinto um pouco de mal estar, confesso que é uma pintada de inveja.

Aproxima-se o Tio W. que me faz as mesmas perguntas de sempre: como andas os estudos? como andas os namoros? como andas seus pais? (pergunta dita com bastante discrição, já que nele existe uma terceira intenção que é saber do relacionamento, já maltratado, dos meus pais. Ele é o tio que torce pela separação dos dois, tenho impressão de que ele paquera minha mãe) Como andas seu irmão? Corto-o elegantemente e me dirijo a um dos meus primos que há muito tempo não converso. Mas a discussão também é infrutífera, pois o papo não sai dos conselhos moralistas que se fazem a caçula da família; escuto-lhe mesmo assim, permitindo que ele me ensine algo.

A meia-noite chega veloz, nada faz mais sentido. Costumo chorar sempre nesses momentos, quando percebo não somente a minha mediocridade, mas também a alheia! Sorrio angustiada. Com lágrimas alegres nos olhos, eu corro em direção ao quintal. Faço um leve balanço com a rede, me sinto bem, esse é o único momento que posso chorar por envelhecer cada dia mais e ficar sozinha com as minhas retrospectivas do ano.