terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Outro blog

Inliterários e etc 
Blog assinado pela Bruna Landim
entrem e dirvitam-se!

Ano novo e tempo velho

Parece que quando a gente se torna um pouco velho mais essas datas comemorativas: natal e ano novo, perdem seus sentidos. A inocência de acreditar em um papai noel ou em esperar ansiosamente pelos presentes dos amigos secretos, resume-se a perceber pequenas pitadas de mesquinhez, de angústia e gastos com dinheiro.

Não esqueço da Tia J., mais velha, sentada com um vestido azul prateado, que só é vestido e preparado nessas épocas, e um novo penteado para tornar-se mais bela e especial nesse novo ano que vai entrar como um ponto de partida para um recomeço. Um processo de esquecimento da história que ela viveu até agora, com o seu marido que sofre com alcoolismo e seus filhos que insistem crescer depressa sem ela sequer ter a oportunidade de pentear o cabelo do menino de lado ou fazer uma trança para combinar com o vestidinho rosa da sua menina. Tia J. suspira silenciosamente sua angústia e toma um champanhe sorrindo com tal graça de jilô mal feito, ela chega, então, a dolorosa sensação que perseguia com bastante frequência ano passado: todo dia é dia para envelhecer.

Olho, com delicioso, cuidado e vejo frutas que são devoradas por quase todos convidados, mas comidas e carnes tão bem cozinhadas pelos anfitriões que mal são vistas por eles e visitantes. Eu também passo pelo banquete e finjo não notar a presença de tantos alimentos, sorrio, tomo mais um refrigerante e roubo da mesa algumas uvas. Ao lado, um casal namorando despreocupadamente e esperando a hora de explodir os fogos, os beijos e a meia-noite, sinto um pouco de mal estar, confesso que é uma pintada de inveja.

Aproxima-se o Tio W. que me faz as mesmas perguntas de sempre: como andas os estudos? como andas os namoros? como andas seus pais? (pergunta dita com bastante discrição, já que nele existe uma terceira intenção que é saber do relacionamento, já maltratado, dos meus pais. Ele é o tio que torce pela separação dos dois, tenho impressão de que ele paquera minha mãe) Como andas seu irmão? Corto-o elegantemente e me dirijo a um dos meus primos que há muito tempo não converso. Mas a discussão também é infrutífera, pois o papo não sai dos conselhos moralistas que se fazem a caçula da família; escuto-lhe mesmo assim, permitindo que ele me ensine algo.

A meia-noite chega veloz, nada faz mais sentido. Costumo chorar sempre nesses momentos, quando percebo não somente a minha mediocridade, mas também a alheia! Sorrio angustiada. Com lágrimas alegres nos olhos, eu corro em direção ao quintal. Faço um leve balanço com a rede, me sinto bem, esse é o único momento que posso chorar por envelhecer cada dia mais e ficar sozinha com as minhas retrospectivas do ano.

sábado, 27 de novembro de 2010

A história das peles

Andréa sai do banheiro e se encontra com o espelho.
Nesse encontro, ela faz uma viagem e uma retrospectiva da
vida que teve com seu marido, a infância de ladra de mexericas
e os dois partos que teve no ventre.



Ela saiu do chuveiro e trombou-se face-a-face com uma imagem muito parecida dela. Após o banho, as mãos e os olhos examinaram os detalhes que eram idênticos: a maçã protegida por seu rosto meigo, as bochechas abertas em um falso sorriso, os cílios tão maiores que os seus olhos e concerteza mais delicados que a própria retina, as belas e negras sobrancelhas desenhadas propositalmente acima dos olhos castanhos como uma dama lunar. Essa imagem era tão estranhamente mimética; porém, havia nela uma estranha assimetria do que Andréia pensava que era o corpo físico dela e do que realmente ele era.

Andréa nunca havia ficado observando, em frente do espelho, os seus detalhes em um período tão duradouro. Assustada e maravilhada, ela suscitava nas formas que a pele desenhava algumas lembranças, iniciando pela cicatriz que marcava as cochas. Houve uma lembrança carnal enquanto tocava a cicatriz, Andréa sentiu: “Ah, eu corria que nem uma gazela alegre e magricela; o vento disputava comigo a corrida, às vezes eu era rápida, às vezes era ele. Mas, - como hoje isso me assusta - eu não tinha medo de nenhum muro titânico, pulava e enfrentava árvores, dragões e broncas da minha vó com tanta naturalidade cruel que sempre existiu em mim. Quando a vovó se aproximava de mim para brigar, eu sorria toda melada de suco de mexerica e ainda oferecia para ela, como se dissesse: você quer?”. Andréa sorria de alegria, quase chorando, gostava das saudades que tinha do seu corpo moço. Aquela cicatriz era um símbolo dos roubos das mexericas e os cuidados que a vovó tinha com ela; uma vez ela pulou o muro e se machucou, a vovó ia brigar com Andréa pela falta de responsabilidade, mas vendo-a, não teve forças de ficar brava e cuidou da cicatriz das cochas. A vovó limpou a cicatriz e sarou-a com os remédios caseiros enquanto, ao mesmo tempo, contava histórias românticas dos namorados lunares que cantavam serenatas e declarações de amor.

Ela apertava essa cicatriz que já nem doía mais, ainda sentindo a dor de meninice quando tinha se machucado. O sangue luminoso, vívido e vermelho que saltava os olhos dela e fazia sentir medo e dor. Certa vez, Andréa sentiu vergonha dessa cicatriz de ladra de mexericas, principalmente, quando trocava-se de roupa em frente das meninas que faziam natação com ela; pois, ela tinha que sempre explicar o motivo da cicatriz nas cochas e compará-la com uma cocha lisa. Todavia, não havia motivos de vergonha, hoje, com cabelos brancos, enfrentando esse mesmo espelho de anos, já não se importava que um dia essa cicatriz era motivo de vergonha na infância e puberdade. Ria dela, sem ódio e angústia, mas com uma alegria de saudades.

Os dedos, que alisando a cicatriz, subia levemente até o umbigo, - o ponto central que dividia o norte e o sul delimitando o ventre tal lugar que lhe proporcionou diversos prazeres. Ela imaginou novamente seu marido já falecido quando ele encostava seus dedos no umbigo e cobria-lhe de tantas intensidades de beijos. Mais tarde, era o ventre que protegeria a filha e negaria um filho, lá seria o palco para um parto e um aborto. Foram duas dores bastante parecidas, no entanto, a primeira dor foi uma vida e a segunda dor foi só sangue. Em ambas, o sangue escorreu com pressa, mas, no aborto, esse sangue fugia do ventre e criava uma cicatriz lá dentro. A dor ainda existe. Quando ela aperta no ventre sente a sensação do filho que é só sangue. Não é igual a dor da cicatriz de ladra de mexericas tal machucado tão amostrado para o mundo, a dor do aborto criou uma cicatriz no ventre que ninguém vê nem Andréa. A dor do aborto é abstrata.

Levando as mãos até o peito relembrou-se, então, do seu falecido marido. Ele retornava do trabalho quando dois rapazes abordaram na saída do metrô e pediram dinheiro, carteira e celular, como ele estava sozinho, deu tudo aos rapazes. Próximo à entrada do metrô, havia dois policiais que, vendo a confusão, correram para pegar os vagabundos e vadios. O primeiro rapaz foi atingindo por treze balas pelo policial da esquerda: uma acertou o ar, duas, três, quatro, quinta foi o braço, sexta peito, sétima cabeça, oitava, nona, décima era o sangue do rapaz, décima primeira era vontade de matar, décima segunda era ódio e vaidade, décima terceira era nada. O segundo rapaz que não correu fez do marido de Andréa seu refém, o marido estava assustado e tinha problemas cardíacos, morreu nos braços do rapaz jovem, não foi nem por causa de tiros, mas sofrendo um enfarte. O policial não socorreu-o, prendeu, primeiramente, esse vadio e ladrão mais jovem.

Andréa assistia a novela das sete quando telefonaram-na. Ela desmaiou no sofá; Lúcia, a filha de Andréa, socorreu-a com grande tranquilidade, oferecendo um comprimido e um copo d’água com açúcar. Andréa não acreditava na notícia que recebera, o marido dela estava morto; quando ela foi até o hospital, ele estava pálido e com o peito aberto (aquele peito aberto que havia deitado dias atrás, Andréa quis morrer ao lado dele). Tiveram que retirar Andréa no quarto, estava-a descontrolada. O último momento dela com seu homem fora um abraço que deu-lhe peito-a-peito, era como uma ação de nostalgia que tiveram na juventude e na velhice que viveram. O peito que ela dormiu deitada, colando a orelha nos pêlos, o peito que a protegeu da cicatriz do ventre e de tantas outras que a vida lhes concebera, aquele peito. Ele foi embora e deixara apenas esse peito.

- Já não me olho com pressa como antes eu olhava na minha meninice que nem olhava, apenas passava diante do espelho e saia pulando para brincar. Já perdi os motivos de me enxergar no espelho com ódio e angústia, com raiva de não saber quem eu sou, com aquela lentidão de cientista que se examina para encontrar um universo de sentidos. Se fustando, porque não encontra sequer um sentido para existir e revoltando-se como uma criança rebelde. Amaldiçoado e maldizendo esse corpo estranho que se redesenhou na puberdade e na vida. Já não perco o meu tempo com as bobagens de moça que se arruma para um homem depois dessarumá-la no quarto a sós – aí bons tempos!. Hoje estou aqui, olhando outra vez essa imagem estranha que ainda não se perdeu e se deformou criando isso. Enxergo a minha história inteira desenhada na pele, nas minhas estrias, no rosto e nos quadris. Não consigo fugir do que nunca me tornei e do que me tornei.

A filha de Andréa já lhe dava dois netos que sentavam no colo dela. No mesmo colo em que Andréa deu de mamar para a filha, em que deitou a cabeça do marido falecido e ouvia encantada a respiração dele. Agora é outro colo que conta histórias aprendidas com a vó antiga e que brinca com os netos. Hoje é outro corpo que é dela, mas mais amado e rabiscado.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Anotações no caderno das nove

Ultimamente. Ando caminhando bastante, ouvi uma música que relembrou os meus velhos tempos. Não. De súbito. Vi uma laranja amarela, será que estamos nos tempos das laranjas?; a terra queima os pés, sonhos com frutas. Ouvi "comes love", - oh my god! - meu inglês é péssimo. Se eu falasse um bom inglês me dedicaria as músicas da Lady Day.

what am I doing? Nada. Nothing. I think just the love is a strawberry fruit. Acho que não falei nada com nada, nem sei se escrevi algo lógico com esse inglês absurdo. Prometo aprender a pensar em inglês. Promessa para o próximo ano!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O estranho observador

O espelho conta sobre as suas observações
do Augusto; este último, há trinta e sete anos,
é o dono da casa que o espelho reside.
Augusto é um escritor frustrado e vive sozinho,
não tem filhos nem esposa,
apenas sobrinhos.


Eu sou o espelho. Fico pendurado numa parede verde na casa de um senhor bem velhinho chamado Augusto. Ele é um senhor sozinho de 57 anos, comprou essa casa quando estava na aurora dos vinte anos (eu tenho a pequena impressão que Augusto gosta da cor verde, porque a casa inteirinha é pintada assim). Morador dessa casa há trinta sete anos, Augusto nunca se casara ou tivera filhos, não lembro-me de nenhuma visitante feminina que roubou o meu olhar na minha pele refletida. Também pudera! Augusto era um moço estúpido, desinteressante e feio. Atualmente tornou-se um velho beberrão e grosseiro. Lembro-me desses detalhes e dito-lhes com precisão desde que eu percebi a minha existência nessa casa mono-colorida, - inteiramente verde.

Por todos cantos dessa casa, existem livros e cadeiras espalhadas. Augusto nunca pareceu-me muito organizado; os seus cadernos, - porque ele é um escritor, - têm cheiro de uísque, sujeira de cafeína e manchas do Malboro. Ele fuma muito. E também bebe bastante.

Uma vez houve uma ocasião da qual ele, bêbado, quebrou os meus vidros (foi muita falta de delicadeza!), jogando em mim uma cadeira. Os meus restos de cacos de vidro nervosamente atacaram, com um corte incisivo e sangrento, as suas mãos; essa cicatriz que existe na palma da mão direita fora fruto do nosso conflito naquela noite. Augusto foi muito indelicado (Poxa! Ele falou para mim que eu era invejoso, justo eu) e disse-me que eu o imito. Entretanto, não sou eu o imitador, sou naturalmente o imitante. Augusto é que repete tudo que existe no meu campo de visão restrito a um foco delimitado pelo espaço; tudo que eu vejo e enxergo só depende de Augusto, pois é ele que prepara o pensamento, fala o que eu não consigo oralizar e possui liberdade de experimentar qualquer ação. Infelizmente, essa liberdade humana eu não tenho. Mas, por falta de alguém para conversar, esse velho beberão joga-lhe a raiva em mim, fica irritado, porque não consegue ser um escritor original e destrói todos os meus cacos por causa de sua frustração literária.

Esses seres chamados Homens são realmente estranhos, sempre necessitam culpabilizar algum outro pelos seus próprios atos de incompetência. Por acaso, quebrar-nos vai mudar a condição de incompetência literária deles? Mesmo nós, que somos da espécie dos espelhos, acabamos quebrados por causa de ações odiosas dos Homens, ora nem fizemos nada para eles. Os cacos, tão bonitos, quebrados e espalhados pelo chão, - nossa como dói! - Jogam-nos (nós, os espelhos, que só observamos objetos e ações) com bastante facilidade as cadeiras, copos e outros instrumentos bélicos, ainda assim, os homens não aprendem, eles não pensam nas consequências dessa atitude e na dor que todos vão sentir com os cacos espalhados pelo chão. Nessas ocasiões só é possível uma troca justa: um espelho quebrado e uma mão sangrenta. Latejante de dor.

Quebrar as espécies alheias é mais fácil do que encarar os problemas. Augusto é incapaz de escrever duas linhas de prosa. Ontem, ele leu alguns versos de Baudelaire em voz alta na Língua Francesa. Tão bonitinhos, tão bonitinhos são os versos: “enivres-vous; enivres-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise". Enquanto as horas passavam, esse velho beberão embriagava-se de uísque e ria alto com a poesia gritando-a: Enivres-vous! Enivres-vous! Não sabia o que significavam essas palavras francesas, os sons que a boca de Augusto produziam eram bonitos e, para mim, os sons já bastavam. O velho beberão tornava-se uma criança brincalhona quando lia as prosas poéticas de Baudelaire, inspirado e bêbado, soltava um riso de lágrima por não conseguir imitar os poetas malditos e esplêndidos. Nenhuma linha de prosa. Nada. Folha vazia.

O escritor chorou tanto porque não conseguia escrever, ficou sentado horas, olhando aquele vazio. Depois, ele virou-se para mim e encarou-me. Pela primeira vez, Augusto se identificou comigo... Até sorriu! Me lembro de seu sorriso triste, vindo na minha direção e as lágrimas misturadas com saliva e uísque. O velho beberão sem camisa, gordo, pêlos brancos no peito, plácido, caminhando até mim e sorrindo. Eu também sorri de volta, já criando uma simpatia, até que ele ficou próximo demais do meu corpo. Nós ficamos muito tempo nos encarando, então, esse velho pegou um copo e jogou em mim (sem dó e nem piedade!). Fiquei nervoso, mas não me quebrei por causa do copo. Não bastando, esse beberão jogou-me uma cadeira; mas, dessa vez, não pude controlar, quebrei-me a parte direita que é o braço dele. O rosto do Augusto estava quase rachado, venho, então, uma outra cadeira e quebrei a parte esquerda que é outro braço dele. O rosto estava inteiramente arrebentado. Por último, Augusto jogou-me uma garrafa de uísque, foi quando eu resolvi quebrar-me inteiramente  para que esse velho pagasse, com o seu sangue, o estrago do meu corpo.

No entanto, ele culpa a mim pela incompetência literária dele e chamou a mim de invejoso! Invejoso. Antes disso, eu até gostava dele, mas agora eu o detesto; demonstro o rosto desse velho beberão deformado e rachado. Augusto nunca arrumara essa casa, escolheu deixá-la para as moscas e ratos. O verde das paredes é a cor bonita que hoje existe no meu reflexo e demonstro com carinho, pois  Augusto atualmente tornara-se apenas uma imagem deformada.


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Poema delicado

Um poema rapidinho

queijadinho e
açúcar café

poeminha
feito com pressinha
e voando as palavras
com assinhas
                 
                      de explosões


cafeína
dura e forte
nicotina
que me queima
toda a palavra
amiúde e pequena
mata


mesmo um poeminha
simples delicado
inocente e – aparentemente – sem pecado
assassina
todas minhas
conformidades
                
                              de emoções


mesmo um poeminha
todo jovem e inteirinho
estraga

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Já Caiu, Já Caiu! O Decreto Já Caiu!

Não sou atriz, mas para mim e todos que se interessarem um pouquinho sequer sobre Arte, deveriam conhecer o que significa a lei de fomento para artistas  "não midiatizados" e trabalhadores (nada contra os atores novelísticos  globais, record e band. Já tive muita coisa contra, mas sei que também é um ótimo ganha pão para quem consegue ter o padrão da mídia ou ser filho de um ator lá dentro) . Lei esta que tem sido descaradamente descumbrida pelo secretário da cultura Augusto Calil.

Leem isto (foi melhor reportagem que eu encontrei apesar do tom agressivo) : http://www.pstu.org.br/editorias_materia.asp?id=3314&ida=4


Houve no dia 4 de novembro às 13h30min uma convocação urgente para assembleia geral na Câmara Municipal de São Paulo, vai haver uma outra dia 11 e se eu não me engano no mesmo horário e local.Nessa última assemebleia, eu estive lá - e já consciente das dificuldades que um artista cênico sofre nesse país , - fiquei ainda mais abismada por saber dessa atitude arbitrária de suprimir essa lei que ofecere oportunidades para artistas pagarem as contas dignamente com arte e trabalho. Esses artistas não estão fazendo baderna, são trabalhadores exigindo que os seus direitos sejam cumpridos como previsto em lei.


- A plenária decidiu oficialmente o Manifesto que será publicado semana que vem (ainda não sei onde,  depois coloco mais informações ) . E também foi decidido uma passeata que vai começar na secretaria da cultura e terminar na Câmara Municipal.

Escrevi esse aviso rapidamente, mas prometo checar melhor as informações e dizê-las com mais segurança. Só queria enfatizar o meu apoio a essa mobilização e que se por acaso ouvirem comentários maldosos desse grupo de pessoas que lutam pelos seus direitores de trabalhadores. Fique registrado que é mentira! Essa lei tinha que ser ampliada e melhorada; depois de quase oito anos na coloboração de permanência dos grupos que trabalham com teatro de pesquisa; na possibilidade de comunidades que até então nunca teriam perspectivas de assistir a espetáculos de dança e teatro; atualmente elas conseguirem entrar em contato com esse universo estimulando a imaginação, a crítica e a interação social. Esse decreto feito por Kaassab e a sua turminha descaraterizou a lei, prejudicando fazedores da arte.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Dzi Croquettes

 
 
Grupo Antropofágico de teatro muito irreverente e lúdico no ano de 1970. Um documentário com fronteiras que beira a forma ficcionalizada do cinema. Assistem!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Acho que aprendi com Picasso a beleza do ódio
Acho que aprendi com Matisse o horror do belo

domingo, 17 de outubro de 2010

O Problema do Eu-Lírico e a Moda

Duas perguntas em relação a Moda:


a) O que seria de uma sociedade sem roupas?

b) A Moda, que é tão cotidiana, não pode ser uma arte que também nos expressa como seres humanos? E por que não?


Duas premissas sobre a Moda:

a) Se você tem algum problema com a Moda, ande sem roupas.

b) O vestuário cria imagens-ideológicas e jogos dominantes de poder. Na Moda, a desigualdade social é estabelecida materialmente.


Apêndice:


* Pena que na Filosofia, Ciências Sociais e na Literatura, essa desigualdade social está no mundo imaterial. Ilude-se, quem pensa que essa diferença social humaniza-se mais nessas áreas. Não. A desigualdade social só não fica escancarada, a vaidade é uma vaidade abstrata.

O Problema do Eu-Lírico e a Ideologia

Eu tenho ideologia, acredito nela, a minha vida é toda ela
Mas e você qual é a sua ideologia? Você sabe dela? 
*
Você realmente escuta os outros? Ou você ouve os outros?
Quantas posições ideológicas alheias você reconhece por dia?

*
Você sabe hoje qual é a ideologia que se afogou até a cabeça?

*
A ideologia é uma larva que impregna a pele
é a cinza que fica no cigarro
 que beira a esquina a alegria
e tromba com a coragem e a euforia
é uma melancolia
uma porcaria
                                       toda ideologia

*

A ideologia é uma merda que todo mundo caga 

O Problema do Eu-Lírico e a Política

Tenho até medo de começar esse assunto. Tem gente que fica muito irritada. Não compreende por ignorância mesmo, não aceita, ou, por estar tão imerso nessa prática racional (a Política), não consegue abrir os olhos para outras espécies de práticas ideológicas que visam a sensibilidade; mas que não são necessariamente panfletárias ou partidárias, porque vão um pouco além do mundo racional, cronológico e empírico. (Não faço parte da noção: a arte pela arte, mas também não gosto da auto-valorização que fizeram com a noção oposta: a política pela arte. A arte é da humanidade. E só).

Não quero escrever uma literatura partidária. Não escrevo pra políticos somente; escrevo pra homens pobres, homens ricos, bichos, anjos, espíritos, deuses, tiranos, perversos, neuróticos e solitários. Escrevo por necessidade individualista que é desabrochar para o mundo e tornar-me lírio flutuante, não para denunciar e nem para horrorizar. Afinal, até aqueles que se horrorizam com literatura, sentem prazer de reconhecer o motivo desse horror literário, - por que existem existencialistas, nietzscheanos e marxistas?Por que gostam de Sartre ou de Marx? (A gente só gosta de algo que nos dá prazer e nos traduza como somos). Esse povo existe por causa do conhecimento esparso na humanidade; existem porque o conhecimento é soberbo; existem porque outros acreditam neles. É gostoso entender o horror estético, não é ruim ser soberbo, é bom e pronto.

Não escrevo literatura panfletária. A minha lente, que é um socialismo-utópico, está expressa no ritmo das palavras, nos pontos de vistas das personagens e no estado de raiva, de pena, de anseio, talvez de angústia que o eu-lírico sente em relação ao mundo. Não escrevo para converter ninguém a uma ideologia política, não quero militar com literatura; diria Cortázar: “que existem literaturas revolucionárias que não tinham nada de revolucionário como literatura”. Esses fragmentos escritos por mim não têm intenção de revolucionar o mundo e pregar o socialismo, ou partidarismo. A consciência política existe em outras maneiras de representações que não são somente essas duas relatadas acima; a partir do momento que homens começam a viver coletivamente com leis,  ações políticas começaram a ser praticadas implicitamente ou explicitamente.

Contradição é dizer: Tudo é política e, depois, falar que existem ações mais políticas que as outras.

sábado, 16 de outubro de 2010

O Problema do Eu-Lírico e o Teatro

“Porque tu sabes que é de poesia a minha vida secreta
Tu sabes, Dionísio, que ao teu lado te amando
Antes de ser mulher sou inteira poeta” [Hilda Hilst]

Eu conversava com o Bacco enquanto tomávamos café. Ele ria: “Olha! Aquele fulaninho ali, aquele ciclaninho lá, não sabem andar. Essas pessoas não sabem nem que estão andando”. Era um velho moço de cabelos finos e brancos que brincava de andar, paquerava moço ou moça, falava italiano e cuspia imagens vermelhas na boca; afirmava: “como é bom paquerar essa gente bonita, principalmente as belas andróginas que carnalizam a beleza de alma no corpo, externizando o espírito”.

Ainda falam pra mim que é impossível criar uma literatura teatralizante: Teatro é vinho e Literatura é vodca, não existe mistureba. Aí Tantas bobagens! Por que não conversam com Bacco, essa eterna divindade do contraste, que era também deus da poesia, do vinho e do teatro?

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Problema do Eu-Lírico e a História

Vou falar que nem uma mulher desbocada. A História é um pedantismo cultural, a única ciência mutável e imperfeita que sonha ser científica, factual e inegável. É chata porque se consagra no cientificismo, mas é bela porque o absolutismo nela não há nada de generalizante. Os processos situados históricos não são repetitivos, enganam-se, a história não revive o estado puro do passado. As pessoas têm entre si uma pluralidade de corpos. Façam um exercício: observem um vaso hoje, depois amanhã... Tentem, então, re-escrever a totalidade do ontem. O que vão ter? O estado puro do vaso hoje?

A História é uma Hera, porque defende o casamento imperfeito com as outras musas das humanidades, porém é uma Afrodite, porque ela é irresistível. A História é a prisão da humanidade.

O Problema do Eu-Lírico e a Filosofia

Não devia fazer isso: escrever pensando na estética. Os leitores vão ler-me com raiva, porque lerão patologias literárias, diagnósticos filosóficos/ sociológicos/ históricos/ estetizantes; não poesia. Ninguém precisa saber de todas as dificuldades que o escritor sente na escrita (só algumas), os leitores não precisam saber que eu fundamentei a minha literatura em Marx, Weber, ou a puta que pariu. Pra quê? É texto literário ou texto científico? Faço a pergunta a vocês leitores: o que ganham sabendo que a minha maior influência filosófica é Thomas More? É sim. Sou assumidamente utopista e influenciada por um inglês. (Tem hora que penso que se eu fosse fazer filosofia, escreveria um ensaio falando de como esse idealismo-(proto)socialista inglês, na época do Renascimento, de repente se transformou analogicamente no mundo mercenário de Bentham: “O dinheiro é o instrumento para medir a quantidade de prazer ou de dor”. Mas essa dúvida tomaria-me muito tempo; com certeza, eu não escreveria. Não eu. Apesar da dúvida ser sufocante).


Entretanto, na literatura que escrevo essas ideologias são expressas nos sons das letras; na maneira que escolho entre a palavra X ou Y; nos conflitos que as personagens enfrentam. As ideologias existem enquanto universo literário, não necessariamente há uma obrigação em reconhecer os nomes de filósofos e citações de outros poetas. É muito fácil classificar um bom poema: ele toca na alma. Devo ter feito a bobagem de escrever uma frase de senso comum, mas essa é a ideologia primária e não tenho pretensão de afastar dela. Os homens já afastaram-se demais dessas ideias primárias (bobas), de bondade, de respeito, de brincar, de amar, de beber, de comer e de cantar. Atualmente, a vida é vivenciada para pagar as contas. Só.

Quanto a Filosofia e a Literatura, tem horas que essas amantes são extremas e infernais, tem horas que são suplicantes e divinais. O problema do meu eu-lírico com elas é que há uma contradição interna na imagem, às vezes as odeio com todas as minhas forças, às vezes são somente elas que fazem a minha vida ter sentido, então, as amo com todas as minhas energias. Não consigo separar a Literatura da Filosofia assim como a História está impregnada em ambas, distante, próxima, inconsciente, - ora uma deusa Hera, ora uma deusa Afrodite.

O Problema do Eu-Lírico

Na realidade, estudar literatura e linguagem nunca ajudou-me nos problemas e anseios do mundo cotidiano. Sou mesmo uma fugitiva. Deveria, pragmaticamente, separar e inventar um eu-lírico que não cruzasse com a minha vida biográfica: esse é o contrato ficcional, - eu finjo que existo e o leitor acredita. Crio uma estética sobre a pessoa que representa a mim mesma (ou pelo menos, acredito que represente a mim) , para o leitor entrar no universo literário com o ponto de vista dessa imagem que é de mentirinha. Essa imagem pode ter várias roupagens literárias (estilos para os mais cultos) e é dessa maneira que o universo literário ganha-lhe predicados, cor e cheiro. Mas existe um sério problema comigo, não consigo mentir senão for falando a verdade; minto porque sou sincera.

Será que eu preciso mesmo escrever explicitamente que sempre tive problemas com a escolha da sexualidade? Que, na realidade, nunca me imaginei cuidando de casa, comida e filhos. Enxergava-me como uma pessoa necessariamente artística, talvez uma artista ( talvez?) e que o grande problema de me assumir como uma poetisa não era eu; mas o mundo que é dominado pelo império da crueldade. Há uma determinação até na escolha do meu eu-lírico é preciso que seja a mais contraditória em relação a gentinha dominante, pergunto-me, qual é a razão de contradizer tanto? Resposta: várias, de Sartre, de Nietzsche (nunca me interessei na leitura deles) e de tantos filósofos que tentaram dissertar sobre a razão da literatura. Outra pergunta: quem conhece esses filósofos? Quem são leitores de literatura? O que é essa maldita literatura? Garanto que os grandes leitores de literatura não tomam ônibus quatro horas da manhã e enfrentam a Dutra para trabalhar na capital de São Paulo. Tenho absoluta certeza disso. Essas teorias filosóficas que o texto literário se apropriou, não servem como literatura impactante. Afinal, pergunto-me, a gente ler textos de literatura para brincar de ficção ou para criar filosofias necessariamente sérias? Entender a literatura como algo sem brincadeiras é um grande equívoco. Na ficção, há uma necessidade de sentir uma alegria difícil.

Che Russo

Meu querido Habar,

"Na lava de suor e sangue a Nada nada"
[Poesia Coletiva] 

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Samuel Rawet

Como é bonito um quadro negro fora da sala de aula!

Amigo B

Antes do nome, o texto literário simbolista já nasceu simbolista. Sem dúvida, o melhor lugar de aprender as coisas é na mesa do boteco, ou tomando café despreocupadamente; a sala de aula não é lugar para aprendizagem literária.

Amigo A

Eu gosto de comer arroz, feijão e ovo. Tem vezes que eu peço pizza, não durmo muito cedo.

A Frustração do Romântico

Já perdi toda vontade de escrever análises sobre mim mesmo. O eu-próprio é-me impossível. Não sinto mais vontade de escrever (sou muito autobiográfica, fico inteiramente nua para o leitor; esse é o problema da sinceridade). Ando pra lá, ando pra cá por toda a casa, ando sem destino, limitada e vendo muros titânicos por todos lados; ando pra lá e ando pra cá, sem fome, apenas olhando as coisas: as mesmas coisas de sempre. Cadê o meu eu que não existe nessa casa? Cadê? Não sou iluminada nem inteligente. Se eu fosse não seria problema controlar esse eu, tão devastador, gata selvagem com garras cortadas. Esse eu não existe nessa casa, talvez ele exista em outros lugares. Acho que vou sumir por alguns dias. Sou mesmo uma fugitiva.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Ana Cristina César

Navarro,

Descubro hoje que a literatura é nada me tirando o sono. Os ratos que
morrem no banheiro.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Descargas psicológicas

Laranja é o sofá.  Em um apartamento estreito e quase vazio, esse é o único objeto que fica em evidência, um sofá bastante confortável que é enfeitado por três almofadas todas brancas de tamanhos diferentes. Ao lado do braço esquerdo do sofá laranja, existe um guarda-chuva fino e cinza que passa uma sensação de elegância.

A mulher de trinta e cinco anos respira o oxigênio que flutua invisível no ar. Melissa, sentada, pensa em fazer chá, apesar de preferir café, talvez poderia tomar vinho, talvez não. Ela queria café, sempre gostou mais da cafeína, só que acabaria fazendo chá, ou então... Não faria nada. Melissa continuaria sentada, pois estava com preguiça de levantar para fazer café, chá ou tomar vinho; ainda ela queria café; ainda faria chá; desejaria tanto um vinho.

Tocou o telefone. Melissa, magra e amorenada, não ia atender, continuaria sentada pensando na possibilidade de tomar ou não tomar café, estava com preguiça e admirava a cor laranja do sofá. O telefone ainda continuava a tocar, podia ser Ulisses, Carlos, Maurício, Antônio ou mesmo aquele outro homem que ela dormiu ontem à noite e não lembrava o nome dele. (Meu deus, como era o nome dele?) Ela não lembrava; não havia importância, focava o pensamento na possibilidade de escolher uma bebida para fazer e tomar.

- Não seria mesmo ninguém - falou Melissa para as paredes, - Eu espero. Aí! Quero tanto tomar um café, - suspirou bem alto, - mas acho que vou fazer um chá

A questão da Melissa não se parece em nada com a questão hamletiana, - ser ou não ser. Sentada no sofá, sem pensamentos de grandes paixões e grandes decisões; a questão melissiana se resume em uma simples decisão trivial e corriqueira demais. Magistralmente. Tomar café, ou tomar chá, - eis a questão. O telefone outra vez começa a perturbar, preocupada com a resolução desse problema. Melissa pensa rápido, corre para cima do telefone, arranca-lhe os fios e joga-o pela janela, caindo do décimo terceiro andar, o objeto suavemente caminha em direção ao chão até finalmente quebrar-se. Melissa ri com crueldade do assassinato banal que acabou de cometer. Um crime sem julgamento. Morreu o telefone.

Ela retorna para a cor do sofá. O apartamento vazio sem murmúrios de telefone, barulhos de porta e risos de amigos, apenas o sofá, a questão melissiana e a própria Melissa preenchendo o espaço estreito da casa que é a única moradia dela. Melissa pensa na solidão desse exato instante, a única companhia que tinha era a possibilidade daquela ligação ser de Ulisses, mas ela assassinou o telefone e essa possível voz masculina. Por quê? Melissa precisava resolver de uma vez por todas o que ela faria. Ou tomava café, ou tomava vinho, ou faria chá, ou não faria absolutamente nada.

    ******

A Palavra Revolução

Cadê a dona Revolução?
Acho que ela não existe não
É só palavra

Cadê os revolucionários?
Sumiram todos para os depositários
de caixa dois, caixa três, caixa quatro
O culpado é o conservadorismo
Mais uma vez, esse sufixo "ismo"
que tortura a palavra.

Cadê os comunistas, os utopistas e os anarquistas?
Onde se escondem os artistas?
Cadê o moderno movimento literário?
Morreram esses revolucionários?

Cadê essa dona Revolução?
Pra onde ela foi? Como ela sumiu (nem apareceu direito)?
Acho que ela não existiu não
Foi só a palavra, tadinha, tão torturada.



O Perigo da Leitura

domingo, 10 de outubro de 2010

Sobre o TU

Não deveria romantizar tanto a Língua Portuguesa, fingir-me como uma espécie feminina de Nelson Gonçalves, Chico Buarque mais amoroso, Vinicius de Moraes ou poemas parnasianos cantados no boteco. Só, para descrever a ti, essa doce sensação que tenho quando tomamos café juntos, vinho e tragamos um pouco de Vila Rica.

Não deveria utilizar nessa prosa o pronome tu para falar de você; pois, eu penso em você, acordo com você, sonho com você e culpabilizo você por todo o prazer e merda que idealizo nas minhas ficções, culpando-lhe sempre com esse ódio apaixonante que entrego a você quando nos abraçamos. Não ao tu. Sinceramente, nem sei como prosear com o pronome tu para falar de alguém que penso só como você.

Tu não tenhas raiva de mim, meu amor, só porque não consigo romantizar a Língua Portuguesa. Eu escrevo com um certo desleixo por causa da utilização de palavrões deselegantes, sintaxe desajeitada, pontuações equivocadas e pronomes oblíquos utilizados antes do verbo. Não me culpes, pois não deveria romantizar essa língua e fingir que ela é diferente de nós dois, porque só você é capaz de deixar a minha ortografia mais caótica do que já é. Mas, (já que me pede com tanto amor), eu prometo que vou utilizar o TU mais vezes; só porque é você. Não deveria. Mas vou como prova da minha devoção que sinto por sua coisa, idealizar-te com pronomes diferentes do real.

Vou chamar VOCÊ de TU, te ligarei no meio da tarde e direi: Boa noite, meu amor, como passaste o dia? Você vai rir; estranha achará a minha mudança de pronomes tão repentinamente. Aposto que vai perguntar: por que me chama de TU e não de VOCÊ? Quando você me fizer essa pergunta, eu vou responder assim: chamo-te de TU, porque o pronome VOCÊ é um desleixo tão grande para esse amor banhado de vinho, cafeína e Vila Rica; TU és o pronome VOCÊ mais apaixonado. Aí! Como eu TU amo VOCÊ!...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Aventuras de palavras

Não sabe que é engraçado saber que as palavras por si nada significam. A palavra “mesa”, por exemplo, o que ela é? Absolutamente nada. Ela não tem nenhum sentido de existir, porque é solta, é muda, é apenas um som, (e nesse caso, “mesa” é só um símbolo gráfico no computador).


A palavra-nome que nascem chamados, Renata, Carlos e Maria, o que é? Vocês?Ô Renata, por acaso você realmente é Renata? Mas, Carlos, pense, quantos Carlos existem no mundo? Vai me responder: quinhentos. Então, como é possível você ser Carlos, como existir um predicado que nem foi escolhido por você e que te intitula como Carlos, Maria ou Renata.  A palavra-nome não nos traduz, talvez o pronome "eu" e o verbo ser, que é irregular em todas as línguas, chegam próximo disso de sermos nós. Sabe o que é mais engraçado. É que o verbo "ser" irregular e o pronome "eu" são totalmente metamorfosseados, nunca se estatizam e ficam inacabados.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Poema curto

Mudo Curto- Circuito
Tudo
Circuito-Curto
Mudo Tudo no Curto-Circuito

Minto
O Mito
O milho quente que não secou
Minto
O milho frio que o homem molhou
Mito
O homem é o milho que já cozinhou

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Do Amor

Evito falar do amor intelectual, do amor ideal, do amor civilizante e do amor carnalizante; evito dizer coisas, ao vento, dos objetos amados, respectivamente, os que me corresponderam e os que não me corresponderam. Não gosto nenhum pouco da ideia de amar porque é preciso, ou porque uma pessoa me faz falta. E, de vez em quando, eu amo.

Eu tinha amiga chamada Bruna que queria muito escrever sonetos de amor, existia nela uma obsessão pela perfeição da forma desse soneto e a mensagem solene, também igualmente bela, que haveria nesse amor de signos a ser transmitida em poesia. A Bruna nunca conseguiu escrever sequer uma palavra, apenas algumas ideias lhe sondaram antes de dormir, mas elas nunca se realizaram verbalmente.

Ela amou esses sonetos, irrealizáveis, como ninguém jamais havia amado. Nada me pareço com a minha amiga poetisa, temos obsessões diferentes. Às vezes, eu me acho um tanto mais ingênua que a Bruna, porque ela pensava com malicia e carinho na forma estética daquele soneto, queria-o perfeito. A poetisa calculava, racionalizava, re-escrevia e tinha raiva das imperfeições rascunhadas daquele primeiro soneto; na realidade, a Bruna queria a glória de concebê-lo inteiramente belo, sublime e sereno.

Não queria mesmo entrar numa conversa intelectual, escrevo sem parar e com bastante raiva. Não quero pensar na coerência do meu pensamento e finalidade desse texto, não queria mesmo entrar nessa conversa de amor intelectual, escrevo porque a carne me exige palavra. O Amor também exige palavras, exige o ódio, exige a cama, o sexo e as noites não dormidas. O Amor me exige muito mais como alguém que não é coisa e que é bicho, é metade gente, metade felino, canino e cavalo. O Amor é a obrigação eterna de sempre saber e nunca saber: se a Sensibilidade é possível, se o Ódio traduz uma mensagem, tão piegas, como eu te amo, se a Loucura é a forma escultural da androginia chamada Amor.

Não queria mesmo entrar numa conversa intelectual. Antes de verbalizarem o Amor, ele já tinha sido carnal, já tinha sido endeusado, já era  respectivamente três: Erô (desejo), Agapô(espiritual) e Philo (amante). Era amor de vinhos vomitados nas mesas e nas gargantas das Bacantes. Não entendo de poesia, não entendo de amor intransitivo, de amor sujo e amor monstruoso, não entendo e nem sei se quero entender desse jeito intelectual. Eu quero o Amor em carne viva, quero cuspir nele e que ele me mostre as suas entranhas, quero amor sem intelectos, só o corpo, só as mãos, só as pernas e sem ideias. A carne viva do amor. A nudez do verbo amar.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Crônica Banal

Na realidade, sempre procurei a invisibilidade da minha voz, estando sozinha no escritório, onde só há eu e o computador. A voz não é sequer o adorno da minha companhia. Barulhos repetitivos, impessoais, como a digitação, o tic-tic da caneta e a barriga roncando, são os meus melhores amigos. Acredito que após a concretização da minha independência financeira, tudo que soa bastante impessoal, inclusive a minha barriga roncando de fome, é o maior motivo da existência ainda continuar se realizando.

Falemos de produtividade. O que é produtividade em um dia? É acordar; trabalhar; ganhar dinheiro; fumar; dormir com meu amante; por último, entretanto, não menos importante, virar de costas e escutar o cansaço de uma noite desgastante, observando o vazio de um quarto impessoal que é o meu. Até fechar os olhos e dormir ainda cansada.

Vivo cansada, acordo cansada e durmo cansada. Nunca consigo descansar e quando fumo um cigarro, além de parecer ser uma melancólica, sinto a minha presente e falsa intelectualidade de filosofar sobre o nada para lugar nenhum. Fingindo ser uma pessoa extremamente interessante, quer falando de Sartre, quer falando de Nietzsche, mas falando. As pessoas cultas sempre falam deles, sigo-as como deuses.

Descrevia o meu dia no escritório, então, só tem eu e o computador. O computador olha para mim o dia inteiro, às vezes não trabalho, invento no twitter algumas frases de efeito, que na realidade não as elaboro, rouba-as mesmo na cara dura. Alguns gostam ( pensando que sou eu a criadora) porque é mais um enfeite de publicação de amostra da nossa cultura aparentemente tão rica. Sou feliz, sempre fui, a minha mediocridade me alegre todos os dias, quando acordo e repito o meu ciclo de mentiras.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O Todo e O Nada

Para Aristóteles,

A obsessão pela categorização
Aquilo nomeio, aquilo vejo
aquilo me esqueço: o todo é nomeado

Nada pode ser denominado,
porque ninguém nasce com nome
Só o Homem que pela loucura do todo
só nomeia o não-nomeado

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O drama do escritor Dr. Markus

Absolutamente. Tá decidido, tá decidido... E não adiantam tentar me convencer, pois não haverá ninguém que vai convencer-me de uma decisão contrária. A partir de hoje, não escreverei nunca mais, tá decidido. Não vou encostar mais a minha mão nesta caneta. Nunca mais! Nem sequer para rabiscar algumas letras nesse caderno. Decididamente não.

Eu não preciso da escrita, na realidade, escrever é mais uma dessas ilusões inventadas pelo Homem. Para inventar os seus universos, o Homem inventou essa exaustiva oficina da escrita. Foi isso sim que aconteceu, agora tudo faz sentido. Finalmente, poderei dormir em paz com os meus sonhos de tornar-me um trabalhador normal, talvez uma casa azul na praia, talvez uma esposa dedicada e alguns filhos. Sim! Uma vida normal.

Acordei, não consegui dormir, fiquei com uma vontade de escrever só um pouquinho. Perdoa-me! São cinco horas da manhã, eu sei, juro que tentei, e não resisti, ela, - a caneta, - estava lá ao lado da minha solitária xícara de café, tão linda, tão doce e misteriosa, dizendo-me: ô meu amor, por que não me vem fazer um carinho, você quer... Euuuuu sei que quer!, e, então, acabei não resistindo. Sei o que pensam sobre mim, acham que sou um fraco, né?! Foi só uma recaída, não vai acontecer de novo. Vão ver, juro por esse Deus que essas pessoas normais acreditam; logo, logo, voltarei a dormir tranquilo.

Cacete! Eu preciso é mesmo de macumba! Eita, alguém purifica a minha alma, isso aqui é um vício que corrói o meu corpo, deve ser coisa do demônio, sai capeta! Não fui trabalhar hoje, disse ao meu chefe que estava doente, sabem por quê? Porque eu precisava escrever. Dessa vez nem foi uma recaída, a caneta que ficou rindo de mim, fazendo piadas, me chamando de fraco. Ora, fui injuriado por ela, no meu lugar (tenho certeza), vocês fariam a mesma coisa. Responderia para caneta da mesma forma que eu: escrevendo. E ela continua ali, rindo de mim, dura, imóvel e dando gargalhadas por causa do meu estado deplorável, tanto físico e psicológico. Os meus cabelos estão bagunçados e a minha barba desde semana passada que não faço. A caneta não tem coração.

... “Que é? Hein? Cê acha mesmo que eu não consigo viver sem você? Eu posso viver muito feliz sim, antes de você, eu vivia normalmente” – gritei assim, colocando moral nela. A caneta nem me respondia, observava os meus passos com tanta indiferença, arrumando as suas tranças e pintando as unhas. Ela pensa que me domina, está enganada. Sou um homem muito equilibrado, eu vou vencer esse jogo. Não vou escrever nunca mais.

Caneta desumana! Tudo bem que eu pareça um louco e o meu apartamento está todo desorganizado, porque a batalha contra esse objeto desumano logo será ganha. Não vou nem olhar para aquela canetinha preta, imóvel, ao lado dessa solitária xícara, nem passa isso pela minha cabeça. Tenho impressão que ela observa o ritmo dos meus passos, - percebem, - a caneta está quietinha assim porque me escuta; a maldita espera uma recaída minha. Pensa que me controla; mas não vai conseguir não, porque eu sou o homem e ela é apenas uma canetinha, um rude objeto de bolso. Não, um objeto insignificante. Não, um objeto sem redundância. Não, não e não! Isso é um objeto torturador. Aí tadinha! Não fala assim Markus pra si mesmo, você sabe que ela não é assim, você está sendo injusto consigo mesmo.


Ela pode machucar o senhor de vez em quando, fazer loucuras nas manhãs e nas noites, só que essas coisas fazem parte da natureza dela. A caneta é linda, um objeto angelical! Ora, quem mandou ela nascer caneta? Vem cá, minha querida, desculpa por te tratar desse jeito... bunitinha! Assim tão mal eu fui, nunca mais serei desse jeito não. Pêra aí, ora ora ora! Ela acha mesmo que eu, Dr. Markus, vou cair nesse jogo sujo, pensa que vai me corromper, - não, não e não! Não escrevo nunca mais.

" São Paulo, 14 de agosto. Sexta-feira. Tá bom, tá bom, não precisam me lembrar, disse que eu nunca mais escreveria. Não consegui. Ela acabou ganhando, afinal, canetas são sempre canetas quando nos envolvemos com elas. Dificilmente, meus amigos, nós escapamos dos encantos dessas canetinhas. Eu tentei, e tenho testemunhas, mas não posso, não consigo escapar. É vício desgraçado, ela não me deixa em paz, atrapalhando a minha vida inteira, não fui nem trabalhar por causa dela."

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O caminho de Manuela

No meio do caminho, tinha uma pedra e ela caiu por causa dela.
a viela não era que nem a mazela que foi quebrar a perna,
a pedra pedrufou o pé de Manuela.

Tinha uma pedra grande e imensa nesse caminho
Manuela, manca, mal andou naquela viela

O pé,machucado e sangrento,doendo
Caminhava três passos sofrendo
Manuela camelava e indo
deixava de andar sorrindo

O vento uivava, a chuva molhava
O carro passava e molhando, por fim, os cabelos aloirados de Manuela,
suja, cinzenta e machucada. Ela voltava pra casa

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Caminhar e O Metrô

O grande movimento, o maior de todos que é feito, não é continuar vivendo; enganam-se. Mas é o de andar, sempre foi o movimentar os pés, o esquerdo pra frente e , ao contrário, o direito para trás. Assim, sucessivamente, movendo-se numa progressão aritmética (tanto crescente, quanto decrescente). Apesar de também ser possível movimentar-se numa progressão geométrica. Contudo, o raciocínio, que melhor pode ser inicialmente desenvolvido, é o da P.A, a primeira noção constante de soma, ou de subtração, desse movimento com os pés: o andar.

Ninguém sabe andar, ou realmente ficar em pé. Fica-se em pé quando a coluna, os pés paralelos e a prontidão estão, conjutamente, em harmonia para iniciar o maior movimento de todos. O corpo levanta um pé e depois o outro, direito e esquerdo, direito e esquerdo. A música muda, a ordem dos pés também muda: esquerdo e direito, esquerdo e direito. Anda-se, realmente, quando é notável quais dos pés vão primeiro e como são colocado em contato com o chão.

Ao sair do metrô, o modo como os paulistanos andam é parecido com uma marcha militar. Tem vezes, que voltando para casa, eu me sinto numa esfera disciplinar ao mesmo tempo bela e feia. As pessoas com pressa, correndo, cansada, descendo as escadas e, na maioria das vezes, barrando a passagem de outros na escada. Sempre dou risada, me sinto como atriz de um espetáculo contemporâneo em que nada se complementa, mas tudo é plástico, é misturado, tudo é um balé urbanizado.

Todos andam, as vezes, não com os pés. Os animais andam, e isso os fazem tão iguais a nós, indivíduos que vivem numa animalia humana, sendo esses bípedes deformados que andam sempre apressados com medo de nunca realmente aproveitar o dia. A cidade grande é o bom lugar de perceber que o homem perdeu a capacidade de pensar com o caminhar; o andar deformou-se tanto que ficou até bonito. Sempre quando vou de metrô fico maravilhada com essas pessoas que andam para e vão para, indo, indo, tornando esse caminhar em um balé sujo de cidade grande, essa dança estranha que é morar em São Paulo.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Pontos Pontuais

Frases que nunca viraram crônicas

A intenção dessa crônica é mostrar para os leitores, as milhares de possibilidades de crônicas que não foram escritas. Sabe, aquelas frases soltas que só pairaram no ar, mas nunca viraram crônicas. Quando isso acontece comigo, eu fico bastante brava, mas anoto-as, uma hora ou outra (ou não), elas vão servir para algum esboço.

                         *****

1) A vida é um intervalo entre o nascimento e a morte. Viver é apenas o movimento disso;

2) Quando eu estou com você, eu não sei o que falar, falo o que me vem na cabeça. Disse ele, no quarto, agarrando-a sem cobertas. Ela riu, porque não sabia o que dizer;

3) Quando eu choro, penso se as lágrimas são realmente minhas, ou são dessa minha tristeza;

4) Conhecer uma realidade sabendo o limite dela, é (talvez) compreender que nunca se foge realmente desses muros tirânicos;

5) A fuga é o meu maior ópio;

6) A personalidade, que eu resguardo, é um metodismo caótico;

7) Nunca seremos livres;

9) Os idiotas agradáveis são verdadeiramente inesquecíveis. O que seria de mim sem eles;

10) A minha ideologia é a arma tirânica que me reprimi;

             *****


As crônicas nunca fugiram dessa coisa chamada pensamento, ficaram por lá, estáticas. Elas viraram estátuas, peças antigas que servem para serem contempladas, visitadas e revisitadas. Essas peças de museu são a memória desse pensamento que, por mim, não vão ser esquecidas. Ao término do passeio, por elas, vão ao quarto de vocês e façam um trabalho com a memória. Quantos pensamentos forão pensados e quantos encontraram a possibilidade (in)grata de vir a ser ação? Quantas cartas não foram mandadas? Quantos romances inacabados? Quantas mortes não foram matadas? Quantos suicídios não aconteceram? Quantos contos não foram contados? Quantas cenas poderiam ser realizadas?


Depois de tanta nostalgia, a vida renasce sem soar o dia. A gente vai vivendo e não se apercebe, quando vê, tudo acontece. As perguntas sem respostas, os acontecimentos sem memórias, tudo que é dito, tudo que é o não-dito, acabam, sem querer, também fazendo parte dessa história que foi inventada. A nostalgia também é vida e o não-dito vira história.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A Canção Disritmia

Passeando despreocupadamente pelos vídeos no site do Youtube, de repente, eu me deparei com uma canção chamada Disritmia enquanto apreciava algumas interpretações do Ney Matogrosso, e essa canção ele cantava junto com o Paulo Luís, acabei me encontrando justamente com esses versos e essa música, fiquei maravilhada. Havia outras interpretações dessa canção (peguei mania de ver outras interpretações da mesma canção) que foram feitas por músicos como Martinália, Zeca Baleiro e Martinho da Vila.

Ô Deus, me assustei. Nunca gostei do Martinho da Vila, tinha um certo preconceito por sambas e pagodes, subestimava o valor cultural disso aí, mas estava enganada. Disritmia é uma canção magnífica, - ô gente! – e ela foi composta por Martinho da Vila, tão bela, tão disforme e tão preciosa. O ritmo de samba, - xim xim x xamb, - sempre fora o meu grande encanto e encontrá-lo na voz do Martinho da Vila, para mim, foi uma grande descoberta. Tem uns momentos que a voz dele fica meio nasal, um pouco fanho.

Durante dias, eu não dormia. Só pensava nessa canção e na voz do Martinho da Vila, fiquei mais curiosa ainda e ouvi outras coisas dele, mas nada me impressionou tanto como essa canção (eu admito). Ouvia e não parava mais, ia trabalhar e os meus colegas percebiam-me cantando, então, vinham com uma pergunta: “que música é essa?”. Eu respondia: é do Martinho da Vila. Eles me olhavam com um rosto estranho, quase como se dissessem, - você gosta mesmo disso? . Se alguém me perguntasse isso, acho que como eu sou tão notavelmente conveniente com o jogo, responderia sim, mas que só era aquela, acho que seria essa a minha resposta. Ainda bem que nunca me perguntaram.

O Ney Matogrosso e o Paulo Luís, na versão que segue abaixo, deram uma personalidade e uma atualidade nessa canção, tão indescritível. É difícil escrever sobre essa canção sem se emocionar, quando a escuto fico claramente abobalhada. Essas horas que eu chego a conclusão: uma experiência artística realmente bem trabalhada e com uma sintonia de entrega tremenda, entre o artista e o objeto trabalhado, dão-se em um resultado irracional, ou seja, não são postas em palavras logicamente gramaticais. Isso pode ser feito com absolutamente quaisquer ritmos, seja samba, seja rock, seja funk, o que importa é a emoção e a experiência transmitida ao outro. Segue-se o vídeo:







domingo, 1 de agosto de 2010

Divagações ao vento

Tudo que o homem faz são especulações sobre a vida, o amor, a civilização, a arte e a política, um homem que nunca fez esse prazer de especular, não compreendeu metade da sua vivência na terra, e quem sabe foi mais feliz, quem sabe não. Ele perdeu o maior prazer de todos, o de criar respostas pra isto.

Fico muito enojada com as respostas prontas, caídas no céu. Às vezes, penso que não sou totalmente espiritualizada por causa desses discursos milagrosos sobre a condição humana e Deus. Se acredito nele? Acredito sim, nunca duvidei na existência de Deus em momento nenhum, apesar de questionar em alguns momentos nessa necessidade Dele ser bom o tempo inteiro. Depois de um tempo, simplesmente, eu parei de pensar em Deus como algo que me julga por todos os meus pecados e as minhas purezas, penso que ele não está preocupado com nada disso (muito menos comigo), e parei de pensar nele, como também deixei de enumerar os meus pecados e as minhas ações puritanas para garantir a minha entrada no céu.

Imagine um cigarro (eu adoro isso). A fumaça sumindo e vaporizando todo o meu nervosismo de existir, acabando com o que resta da minha respiração vaga e do meu olhar poluído purificando a minha alma inteira. Isso não é nada, apenas a minha maior felicidade. Me exijo demais, e o engraçado é que gosto de verdade é do vento, para mim, o meu momento preferido é esse mesmo, o de só fumar. Se há momentos de felicidade suprema é quando nada se pensa, as crianças sentem melhor porque apreciam o vento batendo no rosto e sobrevivem, a carga imensa de lucidez da infância delas, correndo atrás de pipas e de outras crianças. Elas sabem brincar e se divertir, esquecendo-se dessa necessidade imprudente de sempre desejar um Deus bom, justo e poderoso.

Antes eu tinha tanta criatividade, isso soa um tanto romântico. Mas é verdade. A minha ousadia quando menina era imensa, às vezes, eu penso que perdi ela completamente, cadê aquela coragem que tinha de enfrentar dragões e soldados. Que eu gostava mesmo era de vento, e não de homens, e não de mulheres, e nem de gatos, só de vento!

Primeira hora

A Normalista Vinte e Dois nasce aqui nesse exato instante, o nome é esse por causa de uma música, que eu me identifico, também chamada Normalista, interpretada por Nelson Gonçalves. Eu me chamo Mariana é um prazer! Sou mais de crônicas, pelos menos, eu tento.

Os meus amigos falam que sou um tanto temperamental, não os culpo, sei que a minha personalidade é um pouco complicada. As músicas, que eu escuto, me influenciaram assim, (acho). Enfim, bem-vindos, esse é um blog para bobeiras vomitadas, passionais e breguíssimas!