sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

vinte acontecimentos de 2011

1-) Nem sempre fazemos bons versos;
2-) e nem, por isso, nós temos que parar de versejar;
3-) o começo é só um pequeno fim de uma outra história;
4-) não pare de ler;
5-) ouvir música é a melhor coisa do mundo;
6-) tudo cansa;
7-) ainda bem que nenhum amor é pra sempre;
8-) perdi alguns kilos, ganhei outros;
9-) esqueci alguns rostos;
10-) falei demais, falei de menos;
11-) escrevi uma carta não mandada;
12-) não liguei de volta;
13-) o mundo não acabou;
14-) tomei banho;
15- ) fiquei descontrolada;
16-) sonhos fugiram;
17-) perdi dois cds;
18-)  esqueci nomes de pessoas;
19-) comemorei outro aniversário;
20-) dormi muitas horas;

sábado, 12 de novembro de 2011

Desaparecimento

vontade de sumir e esquecer por alguns dias os meus defeitos, minhas próprias qualidades e, apelando para o desprendimento total, não querer nem estar próximo de pessoas amadas ou odiadas. Por um minuto,  eu queria ser impessoal e inexistente. Será que fugiria dos problemas? É bem provável que eles não se resolvam sozinhos, eles esperam por mim, anseiam por algum ser real e concreto. Pena! A minha realidade é tão fantasiosa quanto o meu ser inexistente e não dá para trocar mentira por mentira.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Promessas para o ano que nunca venho

Eu sempre fiz promessas que nunca cumpri, jurava que não ia me apaixonar no próximo ano e que iria organizar as minhas gavetas toda semana, mas fazia isso uma semana no novo ano e deixava as outras semanas dos 365 dias sem organizar outras coisas da minha vida. Não ia me importar mais com a opinião alheia, ia estudar mais e cuidar mais para não comer muitos doces (não faço mais promessas para largar o cigarro, não consigo mesmo!). Uma coisa eu tenho certeza no próximo ano não serei mais a mesma, a gente muda mesmo não querendo, provavelmente eu sentirei mais medo e vou passar outro ano novo sozinha e sóbria demais. Eu podia fazer algo mítico, tipo, caminhar na cidade de São Paulo e olhar a lua iluminar partes da cidade sombria. Sei lá....Pode também ser muito cedo para pensar em um ano novo, mas também não achei outro tema interessante para escrever e precisava colocar as coisas para fora. Eu tenho que terminar o meu romance, entretanto, a vida é cheia de todavias, todos os anos são assim e isso é bom.

sábado, 5 de novembro de 2011

sem grandes frases de efeito quando perdemos o ar
engole-se a saliva
e o bom senso
desaparece

Não há argumentos
para contra-atacar
o momento
adormece
nem sempre volta
(quase nunca)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

nenhum para para de fato o mundo caminhando ao céu torto
o pelo pela e pelos seios nossas mãos
reinam

nenhuma criança rosna
meus cantos
a nuca
os curtos espaços
do meu sexo

o meu amor
é pura selvageria
de loucos putos

espertos
expertos desejos
ardosos profundos
lânguidos
manchas da manhã de segunda
que nem vontade temos de acordar
levantar

o raiar é o fechar os olhos
amantes nem se olham (se enxergam)
escutam e deixam
repousam

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Um bar, dois olhos e a sensação

- você é tão bonita! – ele diz

Sensação dela

Eu, tão insegura,  fiquei artificiosa e enganei-o com um belo sorriso. Ele é tão lindo, tão bacana e tão expressante que não ligaria se fosse uma noite, não me importaria de pedir milhares de saideras só pra ter que inventar papos e papos e ter um motivo qualquer para ficar perto dele.

Sensação dele

Ela é tão intimidadora que mesmo quando eu a beijasse, ficaria com medo da opinião daquela boca sobre a minha língua, mas não me importo de comprá-la e domá-la só com os meus olhos, uma hora estaremos embriagados e os cinco sentidos do corpo serão apenas uma piada.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Ventre

A menstruação pode ou não estar ocorrendo em meu corpo, minha barriga clama e os ovários são o meu maior mistério. Será um filho ou um aborto? Estou prestes a me parir de novo ou vou parir outra vida iminente? As palavras fogem-me, - e ainda tenho alguns defeitos, - escrevo querendo agradar. (Não deveria, sei que não deveria).
Quero viver sem ter que pedir autorização dos meus pais, mas tenho um medo que a minha vida inteira seja uma ficção, um enorme fracasso! Meus pais possuem um controle vital em minhas ações a ponto de toda a identidade, até então construída por mim, não consiga separar-se totalmente da vida deles. Eu os culpo, mas deveria culpar a mim que tenho medo de impor os meus valores e assumir as consequências desses atos. O meu ventre pode gerar um futuro que poderá me destruir ou poderá criar novos valores.
Tenho medo de morrer sozinha. Não falo de amor, quer dizer, de um homem ao meu lado, falo de pessoas que gostam de estar comigo. Talvez eu devesse abandonar completamente a ideia de ser artista que suscita a perda total, inclusive de todo ou qualquer resquício de moralidade cristã e de tudo que relembre o patriacalismo. A liberdade e a solidão são necessárias para criação, no entanto, mesmo sabendo da minha possibilidade de fracasso total, eu quero criar, qualquer coisa, qualquer merdinha ou patifaria furada. As palavras – fonte de insufocável  solidão – são preciosas, porque alimentam a minha individualidade medíocre que me comporto. Assumo que o meu fracasso é inevitável, mas também assumo que me é indispensável continuar criando.
Talvez eu consiga me parir ainda esse mês, mas é sempre o mistério toda a irregularidade das minhas regras. É sempre perigoso o risco que eu tenho de ter problemas, viver na dúvida, viver nessa inteira confusão e nesse desespero, poderia incitar o brotamento de palavras desconhecidas ao meu ser, por exemplo, gravidez, filho ou a possibilidade imediata de aborto. Meu sangue que tanto escorre costuma sujar demais os meus pensamentos, costuma me fazer chorar palavras que pouco importam aos machos, palavras tão mulherzinhas que, mal ou bem, requer sensibilidades além do feminino.
Infelizmente, tenho a ousadia de ser eu mesmo, o problema é que a sociedade rege tantos papéis sociais sobre o feminino e o masculino que uma pessoa assumindo a sua identidade para o mundo é motivo de loucura. Vou desagradar, tenho tanto medo, vou atrair inimigos e os nossos amigos normalmente não costumam acompanhar as questões reais do cotidiano. Eu sou carente, detesto fazer coisas que eu sei que as pessoas não gostam, mas também não posso fazer coisas que eu não gosto. Não posso me trair.

sábado, 15 de outubro de 2011

Coisas de amor (?): Eles e Elas

I

Ela distraidamente organiza o seu boneco, ele sentado observa-a como quem não apercebe os seus próprios olhos fixos a uma coisa:
- você me acha então pegável?
Ela solta um risinho e responde:
- é tão pegável que já peguei, né! – ambos riem.
- você é linda!
O sorriso da menina alumina e deforma todo o espaço, ele se desarma e fica sem jeito com o rosto brilhante e estranho da coisa que a olha também.
- eu devia escrever um poema pra você
- mas eu não mereço um poema inteiro – ele responde - , isso é muito pretensioso, talvez um haikai... não mereço tanto
- já que não merece vou te dar uma palavra. O problema é que eu não sei qual palavra eu poderia definir você, a não ser uma que não tenho coragem de usar a que não conheço o nome.
Ele ri meio encabulado e, um tanto sem jeito com as palavras, diz:
- você é encantadora!
Ela fica desarmada, encabulada, com vontade de sair correndo de lá, embora fica imediatamente com repudio dessa ideia, a fuga implicaria em abandoná-lo e sentiria saudades além dos seus beijos, mas de todo o ele. Pensar em fugir, suscitaria em um sentimento inexplicável, pois sentiria saudades da voz e da boca. Mas, a inibição arrebata-a a possibilidade desse sentimento invadir todo o seu estado natural, será que era só saudades? Será que ela estava se perdendo em toda aquela ilusão de amizade? Ela queria tanto, mas tinha tanto medo. Não era amor? Se fosse amor não poderia ser tão assustador. Alguém que roubava um pouco das suas salivas e a cobria de olhares distraídos e invadisse tanto o seu conforto individual. Batia tantas saudades... Saudades que sentia dele antes mesmo de terminar o próximo beijo, antes mesmo de ele abraçar o seu corpo, antes mesmo de reencontrar seus olhos distraídos e sonolentos, enxergando-a inteira, tanto despudor, quanta ousadia! Como ela o queria tanto, morreria de tanto susto e desejo?

II
  
Quando eu estou com você fico com tanto medo – ele diz próximo dos seus ouvidos – que sei lá...
- mas fica sem jeito por quê?
- você parece sempre ter as palavras na ponta da língua.
Ela abre um largo sorriso e não diz nada, beija-o docemente e sente os lábios dele ardentes.
- namora comigo? – ele pergunta.
- namorar? – ela fica encabulada, nunca ouviu tal pergunta solta tão espontaneamente – mas já não estamos fazendo isso – ela ri.
- não, não. Você é tão bonita! Fica comigo, minha vida, fica comigo pra sempre – as palavras sufocam-se nas respirações sôfregas.
Ela olha assustada essa proposta. Para sempre é muito tempo, será que a efemeridade da vida propiciaria esse desejo infinito? O silêncio dele responde com seus olhos e ela, meio sem jeito com o próprio silêncio, toca-lhe o peito do homem e seus dedos brincam com os pêlos dele e finamente diz:
- quero você aqui e pra sempre será feito agora – uma voz humilde sincera sai espontaneamente.
Ambos se entregam ao amor com medo da vida atirar a sua bala e terminar em morte o mundo dos amantes efêmeros.

III

Elas encontram o Uruguaiano, apelido de um velho amigo palhaço que não conversam faz quase dois anos, e se convidam para tomar cerveja. O palhaço paquera a menina ao lado que possui um cabelo negro.
Ela e Ela sorriem tão distraidamente, esquecendo que existem outros ao redor, brincam com o celular da outra e fingem ciúmes da menina bonita de cabelos negros. O uruguaiano pergunta:
- e aí vão casar ou não?
Elas sorriem com tanta felicidade de amor e respondem praticamente juntas:
- nem a gente sabe – e beijam-se na boca com a harmonia dos apaixonados que fazem questão de amar aos ventos e aos céus.
A menina de cabelos negros diz:
- Vocês estão tão lindas! – Elas sorriem com um brilho atraente, esquecendo-se da própria beleza nem agradecem a menina. Só iluminam! 

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Deus e o otimismo

- um terremoto! Fica tranquilo, é Deus manifestando o seu poder.

Enquanto isso morria seu filho, seu comércio e ele perdia seus dois braços e um pouco da sua identidade por causa da fé que lhe escorria no seu rosto. Ele morreu nesse terremoto e perguntou a Deus:

- poxa Deus! Eu tava lá defendendo você, por que você tirou tudo isso de mim?

Deus, que era um menino pentelho, respondeu enquanto chupava um pirulito roubado de Jesus, o crucificado:

- pô moço! você é um careta, muito chato e quadradão, precisava dá uma sacudida também com esse terremoto!

Filipe Catto - Rima rica frase feita

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Algumas personagens inacabadas

Certas personagens não morrem. Algumas, quase inertes, só ficam guardadas quietas na gaveta apenas a espreita do melhor momento de explosão para um ato teatral mais propício ao escândalo de inquietudes acumuladas nas entranhas, quase estancadas com lâminas afiadas de angústia. Certas personagens inacabadas são mais explosivas e enlouquecidas para ganhar uma vida do que aquelas que já vivem literariamente.  

Essas personagens não sabem que vivem essa fase do espetáculo de uma não explosão das loucuras guardadas na garganta, tanta vida escondida, mas essa é a vida delas. Elas nem imaginam que vivem, mas estão lutando para viver. Gritam com o diretor, entram em conflitos entre si para conseguir um espaço e tentam a autoafirmação de suas existências. Ora, desconfiam do jogo pré-formulado de atos bem elaborados e coerentes, ora, desconfiam que, ao longo de tantas palavras e ações feitas no momento "aqui" e  "agora", suas histórias sejam construídas e desconstruídas por elas mesmas. Essas personagens inacabadas não desistem dos conflitos, acovardam-se quando percebem o imenso público e vivem a luta de não esquecer o que sentem. Por isso, jogam incoerentemente milhares de discursos revoltosos sobre o mundo e as coisas, querem admitir que suas existências sejam tão ou mais importantes do que os que ganharam a vida como Julieta e Romeu, vivos eternamente na literatura.

São personagens que estão no último mês de gestação, querem ver a luz do sol, querem sair da barriga e chorar a lâmina angustiante da água de amor maternal, da instituição falida da família cristã, dos sonhos roubados pelo Imperialismo norte-americano e da possibilidade de morrer a qualquer momento por um tiro na cabeça em pleno final de semana noturno. Elas querem a vida e querem brincar com a morte.  Querem constantemente a reinvenção de seus atos, querem revolucionar a peça, querem provocar a plateia e convidá-la para subir ao palco para brincar de fazer poesia. São personagens-bomba vão explodir a qualquer momento e matar milhares de pessoas que estão ao redor.

Certas personagens nunca, de fato, nós – escritores – conseguimos realmente se despedir. Mas elas já ganharam as suas pernas. Aí, nós ficamos preguiçosos, porque não queremos que elas fujam de nossas rotinas e de nossas canções, é inconsciente, esquecemos de escrever suas histórias, porque elas já exigem a escrita. Elas querem o verbo, querem estar verbalizadas em papéis brancos. Os escritores, depois de tantos conflitos, perdem a batalha por causa de tanta perseverança e persistência dessas personagens, captando as incoerências de seus discursos e dando asas para seus ódios preservados. Os sentimentos críticos e confusos das personagens inacabadas acumulam-se por muito tempo, mas atacam desprevenidamente e conquistam a verbalização de seus dramas para sempre.  Certas personagens são tão encantadoras que fazem praticamente parte de nossas vidas a ponto de sentir saudades. Sinto saudades...

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O Germe Social

O escritor é expelido como um germe no vulcão das misérias e desigualdades sociais de uma sociedade que ainda preza valores fúteis e consumistas. Um germe que parasita em diferentes bueiros sociais, quer vestido de ouro, quer vestido de papel.
Numa humanidade que ainda segrega campos de conhecimento (totalmente) conectados, terminando em discussões infrutíferas de verificar a importância entre matemática e estudos filosóficos. Nota-se ainda a insistência da fragmentação ao invés da procura pela unidade, pela incerteza social incomum, o trabalho coletivo. O escritor é um germe insignificante, irreconhecível e incomunicável (Infelizmente muitos morrerão incompreendidos!). A sensibilidade morreu com a educação e renasceu nas cinzas, alguns vermes, seres domesticáveis para punhetar diante de sites pornôs – nem saem mais de casas atrás de putas.
Cada geração – à mercê desse mecanismo político carnificizante – vai parir um escritor mais feroz que o outro. A inquietude dominará cada palavra ácida, cada som impuro, cada expressão explosiva e cada leitura tóxica. A experiência literária não vai transformar ninguém que não tiver abertura para essas questões sufocantes. Sem tristeza e angústia, ninguém será abalado pela seriedade dessa experiência. As palavras entrecruzam com as experiências vividas. Nobre leitor, és um estupendo escritor iminente! Às vezes, és ainda melhor do que este que escreve a ti. Entretanto, eu não sou nada sem essas palavras, você não é um leitor sem mim e, sem ter escrito esse texto antes, eu não teria a desculpa de conversar com você. Somos um só vivendo a experiência artística, depois dela não seremos mais os mesmos.
No final, a experiência literária gera sujeitos produtores  de outras experiências; às vezes geram na vida; às vezes geram na arte. Não há muitas utilidades práticas em nossas escolhas, mas é melhor que escolhemos as escolhas inúteis que melhor nos agradam. Assim, eu vendo a literatura como um presente grego (romano ou venenoso), que não serve para nada imediatamente, mas que mudará a sua visão de mundo a partir dessa leitura ou da próxima. Os germes sociais ainda dominarão o mundo!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

pequena poesia da tristeza

uiaiuiuiauiauiuai buábuábuá
                                      glup glip

euvoupralugarnenhumpralugaralgumlugarnenhum

césumiu! 


uiaiuiuiauiauiuai buábuábuá
                                      glup glip

sabedoria antiga

todos os estudos são inúteis diante da intangibilidade da vida

o amor é mais do que monografias e artigos
cultos

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

semibeijo

a pior coisa  é boca com boca
o espaço respirando os suspiros
os silêncios

excita mais do que mil beijos

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Carta ao amigo (2)

Querido amigo,

ontem eu fiz vinte anos, você já envelheceu, provavelmente conhece mais da vida do que eu. Sinto muitas saudades e muita vontade de conhecer coisas novas, eu estou com um delicioso medo e uma profunda vontade de continuar errando. Viver é um perigo, todo dia é dia de morrer um pouquinho.

Você que me viu aprender a andar, acha que vou mudar? Vou virar mulher? Vou virar humana? O que eu faço pra continuar assim no caminho certo? Às vezes, me pego pensando que o melhor caminho são os desvios de muitas estradas e que a vida não chega a destinos intactos e perfeitos como os livros. Não tenho mais o mesmo pique que antes para os estudos, estou um tanto sei lá, meio emburrada e quão encabulada de tantas teorias inúteis. A vida é cheia de inutilidade, né...

Eu arranjei namorados, deixei namorados, transei com alguns caras e conheci alguns arrependimentos, mas não acho que fiquei mais adulta por causa disso. Olho-me no espelho e sinto ainda uma tal menina increscente. Vou morrer jovem inevitavelmente e meiga e bela. Você que é jovem a mais de vinte anos como é a vida depois? A gente sempe acaba com essa pergunta, tanto pras coisas banais, quanto pras coisas profundas. E depois?

E o amor? E o ódio? E os homens? Meu amigo, eu acho que eu nunca vou entender nada mesmo. Sou uma idiota por causa disso, né... Uma tonta que perde o tempo com desesperos improdutivos. Não sei se o mundo vai mudar (talvez sim, hoje as mulheres falam coisas que não falavam antes). Eu vou assistir o mundo amadurecendo? Será que você, meu amigo, vai ainda ser padrinho dos meus filhos? Será que eu terei filhos? Aí... Que assustador! Ainda desejo viver tantas bobagens desconhecidas, será que você conhece metade do que eu conheci até agora? Se você me contasse pelo menos metade da sua vida talvez me responderia as minhas perguntas e as coisas ficariam mais simples do que estão parecendo. Eu me sinto tão criança, acho que sou menina com seios e sangue todo mês (provavelmente é isso que eu sou).

Meu amigo, eu vou ficar bêbada, vou tomar bebidas que nem conheço o nome e fumar alguns maços de malboro pra ver se assim as coisas resolvem-se por si mesmas. Se tivesse aqui você falaria pra mim que a vida não se resolve com desesperos e embriagando-se, mas provavelmente não me impediria de errar. Você não me entendia, eu também não te conhecia, éramos jovens demais, não conhecíamos os segredos das nossas personalidades e pra onde elas poderiam descaminhar. Mas ainda vai chegar um dia - assim eu espero - que vamos rir desses desesperos e contar pros nossos outros amigos jovens sobre as vicissitudes descomplexas e esquisitas que a vida nos coloca. Vamos levando!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Janis e divagações à toa

"... é preciso ter muita sabedoria para saber reconhecer os encontros que a vida te dá, mas mais do que sabedoria é preciso ter uma certa loucura e ousadia para se entregar a um encontro que a vida te deu..." 

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Do verbo ser irregular

(...) O que me expressa além da boca e dos olhos é toda minha irregularidade do verbo ser.



Conversa entre duas moças





- olhe pra mim, o que você vê além de peitos, boca e olhos?
- eu vejo uma menina que está tentando se descobrir, você vai achar o seu caminho. Acalma a sua inquietude!
- se eu acalmar ela é provável que eu deixa de me expressar poeticamente? Amiga, eu quero trepar com alguém que me olha nos olhos, eu quero sorrir com alguém que chora quando perceber pequenas demonstrações de carinho e alegria, eu quero alguém que me liga em pleno domingo de manhã não pra ver se a minha casa está livre pra namoricar, mas pra falar besteira, escutar sobre música ou coisas idiotas masculinas. Meninos não gostam das mulheres inquietas ou será que o mundo ficou tão de cabeça pra baixo que as pessoas deixaram de gostar dos papos onde as palavras são mais do que expressões verbais do nada?
- menina, você tá tentando...                                                                     
- eu sou jovem hoje, bonita, com seios firmes, boca límpida e rosto inocente. Amanhã serei uma velha, estou tentando o quê?  Você sabe o que você tenta?
- não sei
- eu  também não... Acho que viver é um absurdo!  Será que um dia um homem ao invés de me mostrar como gozar com minha xotinha vai me dá orgasmos na alma? Será que não nasci andrógina, nasci apenas mulher? Nasci pra ficar sozinha com minha encantadora subjetividade e um olhar tão penetrante que atravessa qualquer libido dos carentes e canalhas – alguns minutos de silêncio, ela bebe outro copo e responde para ela mesma – nasci com a maldição dos escritores malditos, a solidão dos instáveis e a alma dos inquietos! Nenhum homem será capaz de me aguentar, sou por demais uma chata! Me resta os poemas e livros e música e teatro, me resta apenas o que consola até Deus, a própria criação. 

Since I've been loving you - Led Zeppelin

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

carta ao amigo

Meu amigo,

ajude-me a curar de minhas angústias. Sou uma pessimista com grandes notas de rodapé que sinalizam pequenas melhoras do país cujo é minha pátria materna. Estou cansada, um tanto à flor da pele, estou com saudades das nossas besteiras de manhã e ficar cantando sertanejos para descansar a mente dos intelectualismos de segunda mão.

dê-me respostas objetivas sobre o futuro, sobre a morte e o amor. Conte-me se eu estou no caminho certo, uma pequena indicação de que o caminho meu é meio certo ou meio errado. Estou cansada de tantas dicotomias, um pouco saturada de lutas que se conseguem minúsculas conquistas, corre-se cem quilômetros para conseguir efetivamente um centímetro de realização material.

Meu amigo, você ainda escuta blues, ainda ama o seu homem, ainda gosta de poesias marginais? Eu não sei mais quem eu sou, não sei mais quais serão as minhas vontades daqui dois minutos. Não leio mais, não como mais (não porque eu me apaixonei; mas porque é demais meu amigo! É demais!), estou muito magra, não consigo dormir. As minhas vadiagens consomem demais os meus dias e as mãos masculinas encostam-me com carinhos não apaixonados, é só sacangem, é só putaria.

Essa angústia é incurável? Se eu trabalhar melhora? Se eu ganhar dinheiro acalma? Se eu tiver filhos diminui? Se eu casar não vou me sentir mais sozinha? Tantas perguntas, meu amigo, por que você não me responde somente uma? A vida é estranha, não tem professores que indicam notas altas ou baixas para saber se está indo bem ou mal. Meu amigo, como eu estou com saudades de você! Vamos sair um dia desses para reclamar da vida, para cantar aquela música e relembrar quem nós éramos um pouquinho, vamos falar de amores consumidos, tomar um guaraná, uma vodca ou coca-cola, vamos falar de rock n' roll ou de bossa nova, vamos papear em pleno domingo e esquecer que somos civilizados. Meu amigo, que saudade! Que saudade que tenho de você... 

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Diego, um muso de quinta

Ela fumava um vila rica, porque Diego o oferecia. Tragava, pensando que talvez um dos melhores venenos inventados, com uma bela estética, era cigarro. Só fumava com homens, depois do sexo, gostava da cena com olhos nus e cabelos lisos alheios ao pensamento de outro moço que logo ia desaparecer de seus lençóis. Ariana fotografava na memória aquelas paredes brancas, a cama bagunçada, o cheiro de cigarro e o olhar do moço idiota querendo comê-la de novo.  
- o que cê está pensando? – Diego lhe questionava
- em nada... – soltava a fumaça pelos lábios – e você?
- quando estou com você, eu não sei o que falar, falo o que me vem na cabeça – Diego agarrando-a sem cobertas, ela riu porque não sabia o que dizer.
Beijando a nuca, tirando os cabelos dos cantos, mordeu-lhe as orelhas. Ariana arrepiou-se, amolecida, a xotinha molhada, permitiu que o muso a tocasse, enquanto o pau entrasse no cú. De súbito, Ariana pensou nos peixes do aquário e naquela música que não recordava o nome – “acho que é do Gonçalves, talvez do Rau....humMmM...”
- doeu? – perguntou Diego
- um pouquinho – suspirava com voz mansa
Diego, então, masturbou-a mais, beijando mais as suas orelhas e retornou com pau no cú; cochichando aos ouvidos da pequena se estava bom assim ou desse jeito. Ariana gemia com certo prazer e uma sensação estranha de não tirar da memória seu muso de segunda-feira.
- aaaaaaaaaaaah... Paulo! – gritou o outro nome. Diego parou de repente e a questionou:
- Paulo? Quem é ele? 
Ariana enxergou-o de viés com alguns fios de cabelo escondendo partes de seus olhos. Ficou em silêncio, não soltava nada, Diego estava suado e seus olhos imploravam alguma explicação.
- acho melhor eu ir embora – a voz saiu primeiro do que o pensamento de Ariana.
- pêra aí! Volta aqui, a gente nem terminou, meu anjinho! – Ariana sem saber o que fazer vestiu suas roupas, olhou com ardor nos olhos e lascou-lhe um beijo fresco e breve.
- adeus, meu amorzinho! – a porta bateu leve na cara de Diego e ela foi embora.

um sonho de flor

as flores murcham às quatro meia
desfolham as viçosas manhãs
sem dizer adeus
deixam as camas desarrumadas
e fogem
sem beijos de despedidas

seus olhinhos safados
pedem mais carinhos línguas
disparadas pelo corpo
cadentes e sozinhos
elas pedem
um pouco mais
e desaparecem

as flores desabrocham depois das dez
acobertadas de espinhos
embelezando o seu cheiro gostoso
e elaborando suas pétalas
com cor de vida
beijam sozinhas
e acordam mais belas
fugitivas

as flores morrem aos vinte e sete
mitificam-se e nem sempre renascem
as seis da manhã
muitas vezes, permanecem
lindas
anônimas

as flores são mais atraentes
que as fotos
elas gritam
as calcinhas da bunda tiram
e gozam
as cinco, seis, quatro
(de manhã, de tarde ou de noite)

as flores são malvadas
(desnecessárias),
mas como gosto delas!
gosto tanto que um dia
serei uma

Obrigada, meu amor

Todo fenômeno da despedida se inicia com a segregação de duas pessoas que um dia se amaram demais. Aquele que um dia me disse roubar a lua, sai por essa porta e arranca meus restos de artérias que, até noite passada, ainda se misturaram com as dele. As mãos, sem dúvida, são as partes do corpo que me dá mais raiva, escorregaram por entre as pernas, peles e pêlos... Ódio? Talvez, o que eu sinto mais falta dele é do pau. Bem que podia castrá-lo.
Não tomo mais pírulas. Depois que ele foi embora não arranjo nem o porteiro da esquina pra trepar comigo, agarro-me a travesseiros, lembro de suas palavras sacanas, desordeiras. Fiquei, concerteza, igual a um bicho careta e fascinado por canções repletas de clichês; esses dias planejei o meu suicídio, mas desisti, resolvi matá-lo com pauladas de bombeirinhos e cervejas na mesa de um bar desconhecido, onde tocava Fagner. Sei que não resolve o problema. Porém, pelo menos, eu o mato de algum jeito e tiro o gosto de sua porra na minha boca, até encontrá-la outra.
Sentirei saudades de tanta coisa daquele homem. Dos seus olhinhos que me olhavam sempre querendo me engolir viva, os sonhos que ele me contava com tanta energia e da gente se amar por horas até eu acreditar que tinha nascido colada no tronco desse moço. Inclusive no chuveiro, nua, estava ali me imaginando com ele, com suas ridículas mentiras que me feriram com tanto amor e suas maravilhosas fantasias que me tornaram mais mulher, mais única e viva. Obrigada, meu amor...
Odiá-lo foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida. E saber que aquele homem, ao lado daquela vadia, já foi meu, me dá um poder tão absurdo. O poder de uma mulher que um dia amou demais um só homem e foi abandonada numa noite de sábado quente com míseras mensagens virtuais as quais diziam que tal moço não me amava mais. Obrigada, meu amor, pela sinceridade de não ter querido ser meu amigo e ido embora sem palavras melosas.  


Verdades de puta

Milagres do santo pinto de pinteiro
sonhos ludibriantes de Antônio
Porra! A vida é um lixo
dos lustres que eu busco
é o meu luxo

Ao invés de me prometer os céus
Mete logo teu pau
no lugar que quer
e some

(não vai dizer-me que não era
isso o que querias?)

Não mentes
é pecado enganar uma mulher
porque ela logo te enganará de volta
As xotas são mais complexas que paus
Desses bosques mistérios entrementes
escondem-se por entre arbustos e naus
ondas me engolem de incoerências
Talvez seja o mar, o gozo
A vida.

Não gosto de dar pra negros
Resguardo meu corpo
Com brancos
Uma maneira diferente de relembrar
minha virgindade
se não é amando como os cultos
pelo menos é trepando com os puros
De pele, grana e dignidade
Dos botecos e uísques
caros

Não me dê jóias
Prefiros os elogios
Nasci felina no dia oito de agosto
Meu maior desgosto
É a desgraça que comeu meu ventre
com a doença de morte
Não vou virar puta véia
Morrerei antes

Só que me permita, menino,
Dar-te um conselho:
"... A vida é mais bela que parece
Perceba isso dantes
Que a alma apodreça seus dentes
sangrando nos quartos sujos
pros ratos beberem o resto de suor
envenenado pelas alegrias d' outros"

Espírito Roubado

não leva embora todo meu espírito
carrega minhas carnes por kilo
meu coração funciona no grito
grito de prisioneiro:
"Salve teu peito!"

salva a alma que lhe resta
mata tua bontade
destila todo teu ácido
nesses porcos de espíritos disfarçados
de velhas frágeis nos cultos espíritas


amargando o café,
mais amargo é o meu dia
engulo facas filosóficas
tomo enlatados econômicos


ainda morrerei de aglomerados
humanísticos
sugam os sucos dos meus fulcros
mastigam as células místicas
eu como capim teológicos
de falsas ideias paradísiacas


vou embora pro Caribe
Ou, talvez, pra Suíça
procurar os meus lucros
talvez eu realizo
sonhos bruscos
compro
um barco
um amor
masturbo
o meu suor
alivio
meu jack estripador
dosmesticado civilizado
ou então.... eu morro

domingo, 11 de setembro de 2011

O tempo não pára

A Leila Diniz, as coisas de atriz

Existem certos lugares comuns quando falam sobre a figura monumental de uma atriz. Leila Diniz que lia Pasquim; Leila Diniz que trepava pra caralho; Leila Diniz que gostava dos canalhas; Leila Diniz que não escondia o que sentia; Leila Diniz que não encena personas na vida, só cenicamente; Leila Diniz que morreu na idade épica, sendo jovem para sempre.
Qual é o mistério do mundo dionisíaco? A atriz enxerga toda a plateia nos olhos, não se consome de medo, não demonstra seu receio de enfrentar a fantasia de dramas que não existem na vida real, no entanto a mágica acaba. A vida retorna, ela é atriz, Leila Diniz que trepa pra caralho, mas comprando jornal, chocolate e frutas pela manhã. Caminhando para o tédio de uma reunião familiar em pleno domingo de sol, encenando uma menina meio comportada para não ter que explicar tudo, a família grande diz que ela não sabe o quer. Leila Diniz responde: “eu só quero é me divertir....”
A atriz, com raiva, nem perde seu tempo com papo cabeça, porque insistem em querer vê-la chorar só para demonstrar toda sua competência cênica no mundo real. A vontade que dá é em mandar todo mundo tomar no cú, mas calmamente responde: “ atriz faz os outros chorarem, se pra ser atriz bastasse simplesmente demonstrar as lágrimas como palhaço de circo, então teríamos centenas de Bibi Anderson e Cacilda Becker”. Eles riem, Leila Diniz olha com pena e desprezo e desiste do papo cabeça familiar, escolhe definitivamente a figura de uma burra e vadia que não sabe o quer. Pelo menos, atriz se diverte mais fazendo isso do que provocando pensamentos inteligentes.
Nota que as pessoas estão mais velhas, ela está mais jovem. As musas demoram séculos para nascerem, os olhos penetram a libido de alguns homens, ela desaparece como os canalhas e esquece como os vadios. Distraída, a atriz gosta de depreciar o seu trabalho para lembrar que não aprendeu nada útil sobre o combate da vida. Além das coisas importantes do gênero humano, o ser humano muda, o ser humano mente, o ser humano caga, come e transa, o ser humano é estranho e nem sempre ele é protegido por deus. Leila Diniz pensa que o mundo seria melhor se tratassem deus utilizando o pronome você e não vós. Ela conclui que, amadurecendo, se tornará melhor arteira, pois os despudores vão se apropriando de seu corpo. Aos poucos, a vida complica-se mais e mais e fica mais divertida.

seu amor é igual ressaca


Seu amor é igual ressaca
A água que cura
Dói
Na cabeça, no corpo
No rosto, nos olhos de casaca
Roxos

Dói
Amor, lembrar de sua barba
Que roçava minha pele de donzela,
Desleixada,
Meus seios pungentes
Saltando pra fora
Gemendo  inteiros
Por você

Dói
Naufragando nas suas mãos
Sonho alucinada
Por mais um dia noturna
Tremendo circunvoluções
De beijos perdidos
Corações iludidos

Amar
É coisa de gente tola
Que gosta de sonhar com
Piruetas de fogo n’alma
Sua barba agora é minha
Nessa despedida nem me deixou
O que eu tinha
Minha sacanagem
Dói

Amanhã é outro dia
Arranjo outra barba
                  Outra folia 

                                                     Não dói mais  

Pensamentos


Se eu corro
O quarto explode
O caos consome
Meu furor

Voa o pensamento
Arrepios de momento
Sonhos de madrugada
Água ardente
Quente

Meu pijama
Minha cara de demente
Não engana ninguém
O evidente:
Ando pensando muito em você
Ultimamente

A invenção da musa

órfã de mãe
órfã de gatas
órfã de amigas
órfã de cadelas
eu tive que resignar-me
a mim e inventar uma
nova musa

Uma musa que colhe
dos belos musos
palavras e beijos
profundos

profanos segredos
e imundos
descobrimentos
desse corpo 

sábado, 10 de setembro de 2011

Bossa Nova e Rock n’ roll: Observações sobre evoluções desprecisas de uma história

 ao meu amigo Monteiro que me ensinou
algo de rock 
algo de futebol 
um pouco de lamentação 
algo de alma

Nada é tão precioso a ponto de ser eterno. As boas músicas efemerizam a nossa realidade e eternizam as nossas memórias; quando menina ouvia Toquinho, Elis e Vinicius mais do que bebia água. Aprendi a tocar violão, porque gostava de blues e imitar os acordes difíceis da bossa nova. Ouvia rock, mas não me cabia qual era o motivo, a chama subversiva não me contagiava. (Desde cedo, eu saquei que artista não tem que agradar, os melhores iam em direção contrária do sentido imposto por algum patriarca).
Mas houve uma mudança tão profunda em mim, conheci um moço gordo de olhos azuis e melancólicos, um vagabundo, um indivíduo típico de histórias norte-americanas, que bebe mais conhaque do que água. Ele ouve emaranhados de Engenheiros do Hawai como se as canções fossem dele, contagiou-me com uma certa efusão de tristeza que já tinha me esquecido, transformando os meus ideais em litros de cenas alegremente depressivas, todos os gritos reprimidos foram soltos na pinga e no rock.
- bruninha, o rock salvou minha alma, mas estragou o meu corpo! – e com uma risada rouca reiterava – e o que cê acha do bota fogo?
Por trás de tantos risos, a fumaça esvaziava um olhar doce, evidenciando um caminho tão longo que lhe dava licença de utilizar tantas palavras dionisíacas. Não era um amigo que se cria um vínculo eterno, logo desvincularia por completo. Seria rapidamente órfã dele assim como fui com a Amanda, a Tais e a Clarice. No final, teria que saltar os muros impostos com minhas próprias pernas e acobertada com seu rock n’ roll, o sangue contínuo de suas palavras.
- eu era tão bossa nova que tinha me esquecido do rock, - confessava ao meu amigo
- eu tenho uma teoria da bossa nova, às vezes é bom ficar no violão e no banquinho, mas depois eu volto pro rock and roll pra botar os pés no chão –  tragando inexpressivo outro cigarro malboro.
Acho que durante muito tempo, perdi-me em mim. Influenciada demais por minha bela subjetividade, muito mulherzinha, viciada demais com tantos intelectualismos, sem gritos, sem inquietudes pra fora, sem sexo, sem porres, estava demais sóbria. Com tanto equilíbrio, tinha me esquecido das minhas metamorfoses, precisava inventar o amor, precisava inventar um drama. O mundo estava inexplicável de novo, os sentimentos voltavam com rangidos finos de guitarra, a rebeldia contagiava-me, agora podia assumir um pouco de poesia. O rock tinha me salvado! Me colocou de novo no chão tão bossa nova, uma alma contaminada por muito intelectualismo.
- bruninha, eu não quero que te falar o que eu sei, não quero que você se torne eu, porque eu vou embora, então não sou seu exemplo. Sou um herói errado, nem tenho o corpo de dezoito mais, sou gordo e perto da morte.