quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Dzi Croquettes

 
 
Grupo Antropofágico de teatro muito irreverente e lúdico no ano de 1970. Um documentário com fronteiras que beira a forma ficcionalizada do cinema. Assistem!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Acho que aprendi com Picasso a beleza do ódio
Acho que aprendi com Matisse o horror do belo

domingo, 17 de outubro de 2010

O Problema do Eu-Lírico e a Moda

Duas perguntas em relação a Moda:


a) O que seria de uma sociedade sem roupas?

b) A Moda, que é tão cotidiana, não pode ser uma arte que também nos expressa como seres humanos? E por que não?


Duas premissas sobre a Moda:

a) Se você tem algum problema com a Moda, ande sem roupas.

b) O vestuário cria imagens-ideológicas e jogos dominantes de poder. Na Moda, a desigualdade social é estabelecida materialmente.


Apêndice:


* Pena que na Filosofia, Ciências Sociais e na Literatura, essa desigualdade social está no mundo imaterial. Ilude-se, quem pensa que essa diferença social humaniza-se mais nessas áreas. Não. A desigualdade social só não fica escancarada, a vaidade é uma vaidade abstrata.

O Problema do Eu-Lírico e a Ideologia

Eu tenho ideologia, acredito nela, a minha vida é toda ela
Mas e você qual é a sua ideologia? Você sabe dela? 
*
Você realmente escuta os outros? Ou você ouve os outros?
Quantas posições ideológicas alheias você reconhece por dia?

*
Você sabe hoje qual é a ideologia que se afogou até a cabeça?

*
A ideologia é uma larva que impregna a pele
é a cinza que fica no cigarro
 que beira a esquina a alegria
e tromba com a coragem e a euforia
é uma melancolia
uma porcaria
                                       toda ideologia

*

A ideologia é uma merda que todo mundo caga 

O Problema do Eu-Lírico e a Política

Tenho até medo de começar esse assunto. Tem gente que fica muito irritada. Não compreende por ignorância mesmo, não aceita, ou, por estar tão imerso nessa prática racional (a Política), não consegue abrir os olhos para outras espécies de práticas ideológicas que visam a sensibilidade; mas que não são necessariamente panfletárias ou partidárias, porque vão um pouco além do mundo racional, cronológico e empírico. (Não faço parte da noção: a arte pela arte, mas também não gosto da auto-valorização que fizeram com a noção oposta: a política pela arte. A arte é da humanidade. E só).

Não quero escrever uma literatura partidária. Não escrevo pra políticos somente; escrevo pra homens pobres, homens ricos, bichos, anjos, espíritos, deuses, tiranos, perversos, neuróticos e solitários. Escrevo por necessidade individualista que é desabrochar para o mundo e tornar-me lírio flutuante, não para denunciar e nem para horrorizar. Afinal, até aqueles que se horrorizam com literatura, sentem prazer de reconhecer o motivo desse horror literário, - por que existem existencialistas, nietzscheanos e marxistas?Por que gostam de Sartre ou de Marx? (A gente só gosta de algo que nos dá prazer e nos traduza como somos). Esse povo existe por causa do conhecimento esparso na humanidade; existem porque o conhecimento é soberbo; existem porque outros acreditam neles. É gostoso entender o horror estético, não é ruim ser soberbo, é bom e pronto.

Não escrevo literatura panfletária. A minha lente, que é um socialismo-utópico, está expressa no ritmo das palavras, nos pontos de vistas das personagens e no estado de raiva, de pena, de anseio, talvez de angústia que o eu-lírico sente em relação ao mundo. Não escrevo para converter ninguém a uma ideologia política, não quero militar com literatura; diria Cortázar: “que existem literaturas revolucionárias que não tinham nada de revolucionário como literatura”. Esses fragmentos escritos por mim não têm intenção de revolucionar o mundo e pregar o socialismo, ou partidarismo. A consciência política existe em outras maneiras de representações que não são somente essas duas relatadas acima; a partir do momento que homens começam a viver coletivamente com leis,  ações políticas começaram a ser praticadas implicitamente ou explicitamente.

Contradição é dizer: Tudo é política e, depois, falar que existem ações mais políticas que as outras.

sábado, 16 de outubro de 2010

O Problema do Eu-Lírico e o Teatro

“Porque tu sabes que é de poesia a minha vida secreta
Tu sabes, Dionísio, que ao teu lado te amando
Antes de ser mulher sou inteira poeta” [Hilda Hilst]

Eu conversava com o Bacco enquanto tomávamos café. Ele ria: “Olha! Aquele fulaninho ali, aquele ciclaninho lá, não sabem andar. Essas pessoas não sabem nem que estão andando”. Era um velho moço de cabelos finos e brancos que brincava de andar, paquerava moço ou moça, falava italiano e cuspia imagens vermelhas na boca; afirmava: “como é bom paquerar essa gente bonita, principalmente as belas andróginas que carnalizam a beleza de alma no corpo, externizando o espírito”.

Ainda falam pra mim que é impossível criar uma literatura teatralizante: Teatro é vinho e Literatura é vodca, não existe mistureba. Aí Tantas bobagens! Por que não conversam com Bacco, essa eterna divindade do contraste, que era também deus da poesia, do vinho e do teatro?

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Problema do Eu-Lírico e a História

Vou falar que nem uma mulher desbocada. A História é um pedantismo cultural, a única ciência mutável e imperfeita que sonha ser científica, factual e inegável. É chata porque se consagra no cientificismo, mas é bela porque o absolutismo nela não há nada de generalizante. Os processos situados históricos não são repetitivos, enganam-se, a história não revive o estado puro do passado. As pessoas têm entre si uma pluralidade de corpos. Façam um exercício: observem um vaso hoje, depois amanhã... Tentem, então, re-escrever a totalidade do ontem. O que vão ter? O estado puro do vaso hoje?

A História é uma Hera, porque defende o casamento imperfeito com as outras musas das humanidades, porém é uma Afrodite, porque ela é irresistível. A História é a prisão da humanidade.

O Problema do Eu-Lírico e a Filosofia

Não devia fazer isso: escrever pensando na estética. Os leitores vão ler-me com raiva, porque lerão patologias literárias, diagnósticos filosóficos/ sociológicos/ históricos/ estetizantes; não poesia. Ninguém precisa saber de todas as dificuldades que o escritor sente na escrita (só algumas), os leitores não precisam saber que eu fundamentei a minha literatura em Marx, Weber, ou a puta que pariu. Pra quê? É texto literário ou texto científico? Faço a pergunta a vocês leitores: o que ganham sabendo que a minha maior influência filosófica é Thomas More? É sim. Sou assumidamente utopista e influenciada por um inglês. (Tem hora que penso que se eu fosse fazer filosofia, escreveria um ensaio falando de como esse idealismo-(proto)socialista inglês, na época do Renascimento, de repente se transformou analogicamente no mundo mercenário de Bentham: “O dinheiro é o instrumento para medir a quantidade de prazer ou de dor”. Mas essa dúvida tomaria-me muito tempo; com certeza, eu não escreveria. Não eu. Apesar da dúvida ser sufocante).


Entretanto, na literatura que escrevo essas ideologias são expressas nos sons das letras; na maneira que escolho entre a palavra X ou Y; nos conflitos que as personagens enfrentam. As ideologias existem enquanto universo literário, não necessariamente há uma obrigação em reconhecer os nomes de filósofos e citações de outros poetas. É muito fácil classificar um bom poema: ele toca na alma. Devo ter feito a bobagem de escrever uma frase de senso comum, mas essa é a ideologia primária e não tenho pretensão de afastar dela. Os homens já afastaram-se demais dessas ideias primárias (bobas), de bondade, de respeito, de brincar, de amar, de beber, de comer e de cantar. Atualmente, a vida é vivenciada para pagar as contas. Só.

Quanto a Filosofia e a Literatura, tem horas que essas amantes são extremas e infernais, tem horas que são suplicantes e divinais. O problema do meu eu-lírico com elas é que há uma contradição interna na imagem, às vezes as odeio com todas as minhas forças, às vezes são somente elas que fazem a minha vida ter sentido, então, as amo com todas as minhas energias. Não consigo separar a Literatura da Filosofia assim como a História está impregnada em ambas, distante, próxima, inconsciente, - ora uma deusa Hera, ora uma deusa Afrodite.

O Problema do Eu-Lírico

Na realidade, estudar literatura e linguagem nunca ajudou-me nos problemas e anseios do mundo cotidiano. Sou mesmo uma fugitiva. Deveria, pragmaticamente, separar e inventar um eu-lírico que não cruzasse com a minha vida biográfica: esse é o contrato ficcional, - eu finjo que existo e o leitor acredita. Crio uma estética sobre a pessoa que representa a mim mesma (ou pelo menos, acredito que represente a mim) , para o leitor entrar no universo literário com o ponto de vista dessa imagem que é de mentirinha. Essa imagem pode ter várias roupagens literárias (estilos para os mais cultos) e é dessa maneira que o universo literário ganha-lhe predicados, cor e cheiro. Mas existe um sério problema comigo, não consigo mentir senão for falando a verdade; minto porque sou sincera.

Será que eu preciso mesmo escrever explicitamente que sempre tive problemas com a escolha da sexualidade? Que, na realidade, nunca me imaginei cuidando de casa, comida e filhos. Enxergava-me como uma pessoa necessariamente artística, talvez uma artista ( talvez?) e que o grande problema de me assumir como uma poetisa não era eu; mas o mundo que é dominado pelo império da crueldade. Há uma determinação até na escolha do meu eu-lírico é preciso que seja a mais contraditória em relação a gentinha dominante, pergunto-me, qual é a razão de contradizer tanto? Resposta: várias, de Sartre, de Nietzsche (nunca me interessei na leitura deles) e de tantos filósofos que tentaram dissertar sobre a razão da literatura. Outra pergunta: quem conhece esses filósofos? Quem são leitores de literatura? O que é essa maldita literatura? Garanto que os grandes leitores de literatura não tomam ônibus quatro horas da manhã e enfrentam a Dutra para trabalhar na capital de São Paulo. Tenho absoluta certeza disso. Essas teorias filosóficas que o texto literário se apropriou, não servem como literatura impactante. Afinal, pergunto-me, a gente ler textos de literatura para brincar de ficção ou para criar filosofias necessariamente sérias? Entender a literatura como algo sem brincadeiras é um grande equívoco. Na ficção, há uma necessidade de sentir uma alegria difícil.

Che Russo

Meu querido Habar,

"Na lava de suor e sangue a Nada nada"
[Poesia Coletiva] 

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Samuel Rawet

Como é bonito um quadro negro fora da sala de aula!

Amigo B

Antes do nome, o texto literário simbolista já nasceu simbolista. Sem dúvida, o melhor lugar de aprender as coisas é na mesa do boteco, ou tomando café despreocupadamente; a sala de aula não é lugar para aprendizagem literária.

Amigo A

Eu gosto de comer arroz, feijão e ovo. Tem vezes que eu peço pizza, não durmo muito cedo.

A Frustração do Romântico

Já perdi toda vontade de escrever análises sobre mim mesmo. O eu-próprio é-me impossível. Não sinto mais vontade de escrever (sou muito autobiográfica, fico inteiramente nua para o leitor; esse é o problema da sinceridade). Ando pra lá, ando pra cá por toda a casa, ando sem destino, limitada e vendo muros titânicos por todos lados; ando pra lá e ando pra cá, sem fome, apenas olhando as coisas: as mesmas coisas de sempre. Cadê o meu eu que não existe nessa casa? Cadê? Não sou iluminada nem inteligente. Se eu fosse não seria problema controlar esse eu, tão devastador, gata selvagem com garras cortadas. Esse eu não existe nessa casa, talvez ele exista em outros lugares. Acho que vou sumir por alguns dias. Sou mesmo uma fugitiva.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Ana Cristina César

Navarro,

Descubro hoje que a literatura é nada me tirando o sono. Os ratos que
morrem no banheiro.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Descargas psicológicas

Laranja é o sofá.  Em um apartamento estreito e quase vazio, esse é o único objeto que fica em evidência, um sofá bastante confortável que é enfeitado por três almofadas todas brancas de tamanhos diferentes. Ao lado do braço esquerdo do sofá laranja, existe um guarda-chuva fino e cinza que passa uma sensação de elegância.

A mulher de trinta e cinco anos respira o oxigênio que flutua invisível no ar. Melissa, sentada, pensa em fazer chá, apesar de preferir café, talvez poderia tomar vinho, talvez não. Ela queria café, sempre gostou mais da cafeína, só que acabaria fazendo chá, ou então... Não faria nada. Melissa continuaria sentada, pois estava com preguiça de levantar para fazer café, chá ou tomar vinho; ainda ela queria café; ainda faria chá; desejaria tanto um vinho.

Tocou o telefone. Melissa, magra e amorenada, não ia atender, continuaria sentada pensando na possibilidade de tomar ou não tomar café, estava com preguiça e admirava a cor laranja do sofá. O telefone ainda continuava a tocar, podia ser Ulisses, Carlos, Maurício, Antônio ou mesmo aquele outro homem que ela dormiu ontem à noite e não lembrava o nome dele. (Meu deus, como era o nome dele?) Ela não lembrava; não havia importância, focava o pensamento na possibilidade de escolher uma bebida para fazer e tomar.

- Não seria mesmo ninguém - falou Melissa para as paredes, - Eu espero. Aí! Quero tanto tomar um café, - suspirou bem alto, - mas acho que vou fazer um chá

A questão da Melissa não se parece em nada com a questão hamletiana, - ser ou não ser. Sentada no sofá, sem pensamentos de grandes paixões e grandes decisões; a questão melissiana se resume em uma simples decisão trivial e corriqueira demais. Magistralmente. Tomar café, ou tomar chá, - eis a questão. O telefone outra vez começa a perturbar, preocupada com a resolução desse problema. Melissa pensa rápido, corre para cima do telefone, arranca-lhe os fios e joga-o pela janela, caindo do décimo terceiro andar, o objeto suavemente caminha em direção ao chão até finalmente quebrar-se. Melissa ri com crueldade do assassinato banal que acabou de cometer. Um crime sem julgamento. Morreu o telefone.

Ela retorna para a cor do sofá. O apartamento vazio sem murmúrios de telefone, barulhos de porta e risos de amigos, apenas o sofá, a questão melissiana e a própria Melissa preenchendo o espaço estreito da casa que é a única moradia dela. Melissa pensa na solidão desse exato instante, a única companhia que tinha era a possibilidade daquela ligação ser de Ulisses, mas ela assassinou o telefone e essa possível voz masculina. Por quê? Melissa precisava resolver de uma vez por todas o que ela faria. Ou tomava café, ou tomava vinho, ou faria chá, ou não faria absolutamente nada.

    ******

A Palavra Revolução

Cadê a dona Revolução?
Acho que ela não existe não
É só palavra

Cadê os revolucionários?
Sumiram todos para os depositários
de caixa dois, caixa três, caixa quatro
O culpado é o conservadorismo
Mais uma vez, esse sufixo "ismo"
que tortura a palavra.

Cadê os comunistas, os utopistas e os anarquistas?
Onde se escondem os artistas?
Cadê o moderno movimento literário?
Morreram esses revolucionários?

Cadê essa dona Revolução?
Pra onde ela foi? Como ela sumiu (nem apareceu direito)?
Acho que ela não existiu não
Foi só a palavra, tadinha, tão torturada.



O Perigo da Leitura

domingo, 10 de outubro de 2010

Sobre o TU

Não deveria romantizar tanto a Língua Portuguesa, fingir-me como uma espécie feminina de Nelson Gonçalves, Chico Buarque mais amoroso, Vinicius de Moraes ou poemas parnasianos cantados no boteco. Só, para descrever a ti, essa doce sensação que tenho quando tomamos café juntos, vinho e tragamos um pouco de Vila Rica.

Não deveria utilizar nessa prosa o pronome tu para falar de você; pois, eu penso em você, acordo com você, sonho com você e culpabilizo você por todo o prazer e merda que idealizo nas minhas ficções, culpando-lhe sempre com esse ódio apaixonante que entrego a você quando nos abraçamos. Não ao tu. Sinceramente, nem sei como prosear com o pronome tu para falar de alguém que penso só como você.

Tu não tenhas raiva de mim, meu amor, só porque não consigo romantizar a Língua Portuguesa. Eu escrevo com um certo desleixo por causa da utilização de palavrões deselegantes, sintaxe desajeitada, pontuações equivocadas e pronomes oblíquos utilizados antes do verbo. Não me culpes, pois não deveria romantizar essa língua e fingir que ela é diferente de nós dois, porque só você é capaz de deixar a minha ortografia mais caótica do que já é. Mas, (já que me pede com tanto amor), eu prometo que vou utilizar o TU mais vezes; só porque é você. Não deveria. Mas vou como prova da minha devoção que sinto por sua coisa, idealizar-te com pronomes diferentes do real.

Vou chamar VOCÊ de TU, te ligarei no meio da tarde e direi: Boa noite, meu amor, como passaste o dia? Você vai rir; estranha achará a minha mudança de pronomes tão repentinamente. Aposto que vai perguntar: por que me chama de TU e não de VOCÊ? Quando você me fizer essa pergunta, eu vou responder assim: chamo-te de TU, porque o pronome VOCÊ é um desleixo tão grande para esse amor banhado de vinho, cafeína e Vila Rica; TU és o pronome VOCÊ mais apaixonado. Aí! Como eu TU amo VOCÊ!...