segunda-feira, 31 de outubro de 2011

nenhum para para de fato o mundo caminhando ao céu torto
o pelo pela e pelos seios nossas mãos
reinam

nenhuma criança rosna
meus cantos
a nuca
os curtos espaços
do meu sexo

o meu amor
é pura selvageria
de loucos putos

espertos
expertos desejos
ardosos profundos
lânguidos
manchas da manhã de segunda
que nem vontade temos de acordar
levantar

o raiar é o fechar os olhos
amantes nem se olham (se enxergam)
escutam e deixam
repousam

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Um bar, dois olhos e a sensação

- você é tão bonita! – ele diz

Sensação dela

Eu, tão insegura,  fiquei artificiosa e enganei-o com um belo sorriso. Ele é tão lindo, tão bacana e tão expressante que não ligaria se fosse uma noite, não me importaria de pedir milhares de saideras só pra ter que inventar papos e papos e ter um motivo qualquer para ficar perto dele.

Sensação dele

Ela é tão intimidadora que mesmo quando eu a beijasse, ficaria com medo da opinião daquela boca sobre a minha língua, mas não me importo de comprá-la e domá-la só com os meus olhos, uma hora estaremos embriagados e os cinco sentidos do corpo serão apenas uma piada.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Ventre

A menstruação pode ou não estar ocorrendo em meu corpo, minha barriga clama e os ovários são o meu maior mistério. Será um filho ou um aborto? Estou prestes a me parir de novo ou vou parir outra vida iminente? As palavras fogem-me, - e ainda tenho alguns defeitos, - escrevo querendo agradar. (Não deveria, sei que não deveria).
Quero viver sem ter que pedir autorização dos meus pais, mas tenho um medo que a minha vida inteira seja uma ficção, um enorme fracasso! Meus pais possuem um controle vital em minhas ações a ponto de toda a identidade, até então construída por mim, não consiga separar-se totalmente da vida deles. Eu os culpo, mas deveria culpar a mim que tenho medo de impor os meus valores e assumir as consequências desses atos. O meu ventre pode gerar um futuro que poderá me destruir ou poderá criar novos valores.
Tenho medo de morrer sozinha. Não falo de amor, quer dizer, de um homem ao meu lado, falo de pessoas que gostam de estar comigo. Talvez eu devesse abandonar completamente a ideia de ser artista que suscita a perda total, inclusive de todo ou qualquer resquício de moralidade cristã e de tudo que relembre o patriacalismo. A liberdade e a solidão são necessárias para criação, no entanto, mesmo sabendo da minha possibilidade de fracasso total, eu quero criar, qualquer coisa, qualquer merdinha ou patifaria furada. As palavras – fonte de insufocável  solidão – são preciosas, porque alimentam a minha individualidade medíocre que me comporto. Assumo que o meu fracasso é inevitável, mas também assumo que me é indispensável continuar criando.
Talvez eu consiga me parir ainda esse mês, mas é sempre o mistério toda a irregularidade das minhas regras. É sempre perigoso o risco que eu tenho de ter problemas, viver na dúvida, viver nessa inteira confusão e nesse desespero, poderia incitar o brotamento de palavras desconhecidas ao meu ser, por exemplo, gravidez, filho ou a possibilidade imediata de aborto. Meu sangue que tanto escorre costuma sujar demais os meus pensamentos, costuma me fazer chorar palavras que pouco importam aos machos, palavras tão mulherzinhas que, mal ou bem, requer sensibilidades além do feminino.
Infelizmente, tenho a ousadia de ser eu mesmo, o problema é que a sociedade rege tantos papéis sociais sobre o feminino e o masculino que uma pessoa assumindo a sua identidade para o mundo é motivo de loucura. Vou desagradar, tenho tanto medo, vou atrair inimigos e os nossos amigos normalmente não costumam acompanhar as questões reais do cotidiano. Eu sou carente, detesto fazer coisas que eu sei que as pessoas não gostam, mas também não posso fazer coisas que eu não gosto. Não posso me trair.

sábado, 15 de outubro de 2011

Coisas de amor (?): Eles e Elas

I

Ela distraidamente organiza o seu boneco, ele sentado observa-a como quem não apercebe os seus próprios olhos fixos a uma coisa:
- você me acha então pegável?
Ela solta um risinho e responde:
- é tão pegável que já peguei, né! – ambos riem.
- você é linda!
O sorriso da menina alumina e deforma todo o espaço, ele se desarma e fica sem jeito com o rosto brilhante e estranho da coisa que a olha também.
- eu devia escrever um poema pra você
- mas eu não mereço um poema inteiro – ele responde - , isso é muito pretensioso, talvez um haikai... não mereço tanto
- já que não merece vou te dar uma palavra. O problema é que eu não sei qual palavra eu poderia definir você, a não ser uma que não tenho coragem de usar a que não conheço o nome.
Ele ri meio encabulado e, um tanto sem jeito com as palavras, diz:
- você é encantadora!
Ela fica desarmada, encabulada, com vontade de sair correndo de lá, embora fica imediatamente com repudio dessa ideia, a fuga implicaria em abandoná-lo e sentiria saudades além dos seus beijos, mas de todo o ele. Pensar em fugir, suscitaria em um sentimento inexplicável, pois sentiria saudades da voz e da boca. Mas, a inibição arrebata-a a possibilidade desse sentimento invadir todo o seu estado natural, será que era só saudades? Será que ela estava se perdendo em toda aquela ilusão de amizade? Ela queria tanto, mas tinha tanto medo. Não era amor? Se fosse amor não poderia ser tão assustador. Alguém que roubava um pouco das suas salivas e a cobria de olhares distraídos e invadisse tanto o seu conforto individual. Batia tantas saudades... Saudades que sentia dele antes mesmo de terminar o próximo beijo, antes mesmo de ele abraçar o seu corpo, antes mesmo de reencontrar seus olhos distraídos e sonolentos, enxergando-a inteira, tanto despudor, quanta ousadia! Como ela o queria tanto, morreria de tanto susto e desejo?

II
  
Quando eu estou com você fico com tanto medo – ele diz próximo dos seus ouvidos – que sei lá...
- mas fica sem jeito por quê?
- você parece sempre ter as palavras na ponta da língua.
Ela abre um largo sorriso e não diz nada, beija-o docemente e sente os lábios dele ardentes.
- namora comigo? – ele pergunta.
- namorar? – ela fica encabulada, nunca ouviu tal pergunta solta tão espontaneamente – mas já não estamos fazendo isso – ela ri.
- não, não. Você é tão bonita! Fica comigo, minha vida, fica comigo pra sempre – as palavras sufocam-se nas respirações sôfregas.
Ela olha assustada essa proposta. Para sempre é muito tempo, será que a efemeridade da vida propiciaria esse desejo infinito? O silêncio dele responde com seus olhos e ela, meio sem jeito com o próprio silêncio, toca-lhe o peito do homem e seus dedos brincam com os pêlos dele e finamente diz:
- quero você aqui e pra sempre será feito agora – uma voz humilde sincera sai espontaneamente.
Ambos se entregam ao amor com medo da vida atirar a sua bala e terminar em morte o mundo dos amantes efêmeros.

III

Elas encontram o Uruguaiano, apelido de um velho amigo palhaço que não conversam faz quase dois anos, e se convidam para tomar cerveja. O palhaço paquera a menina ao lado que possui um cabelo negro.
Ela e Ela sorriem tão distraidamente, esquecendo que existem outros ao redor, brincam com o celular da outra e fingem ciúmes da menina bonita de cabelos negros. O uruguaiano pergunta:
- e aí vão casar ou não?
Elas sorriem com tanta felicidade de amor e respondem praticamente juntas:
- nem a gente sabe – e beijam-se na boca com a harmonia dos apaixonados que fazem questão de amar aos ventos e aos céus.
A menina de cabelos negros diz:
- Vocês estão tão lindas! – Elas sorriem com um brilho atraente, esquecendo-se da própria beleza nem agradecem a menina. Só iluminam! 

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Deus e o otimismo

- um terremoto! Fica tranquilo, é Deus manifestando o seu poder.

Enquanto isso morria seu filho, seu comércio e ele perdia seus dois braços e um pouco da sua identidade por causa da fé que lhe escorria no seu rosto. Ele morreu nesse terremoto e perguntou a Deus:

- poxa Deus! Eu tava lá defendendo você, por que você tirou tudo isso de mim?

Deus, que era um menino pentelho, respondeu enquanto chupava um pirulito roubado de Jesus, o crucificado:

- pô moço! você é um careta, muito chato e quadradão, precisava dá uma sacudida também com esse terremoto!

Filipe Catto - Rima rica frase feita

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Algumas personagens inacabadas

Certas personagens não morrem. Algumas, quase inertes, só ficam guardadas quietas na gaveta apenas a espreita do melhor momento de explosão para um ato teatral mais propício ao escândalo de inquietudes acumuladas nas entranhas, quase estancadas com lâminas afiadas de angústia. Certas personagens inacabadas são mais explosivas e enlouquecidas para ganhar uma vida do que aquelas que já vivem literariamente.  

Essas personagens não sabem que vivem essa fase do espetáculo de uma não explosão das loucuras guardadas na garganta, tanta vida escondida, mas essa é a vida delas. Elas nem imaginam que vivem, mas estão lutando para viver. Gritam com o diretor, entram em conflitos entre si para conseguir um espaço e tentam a autoafirmação de suas existências. Ora, desconfiam do jogo pré-formulado de atos bem elaborados e coerentes, ora, desconfiam que, ao longo de tantas palavras e ações feitas no momento "aqui" e  "agora", suas histórias sejam construídas e desconstruídas por elas mesmas. Essas personagens inacabadas não desistem dos conflitos, acovardam-se quando percebem o imenso público e vivem a luta de não esquecer o que sentem. Por isso, jogam incoerentemente milhares de discursos revoltosos sobre o mundo e as coisas, querem admitir que suas existências sejam tão ou mais importantes do que os que ganharam a vida como Julieta e Romeu, vivos eternamente na literatura.

São personagens que estão no último mês de gestação, querem ver a luz do sol, querem sair da barriga e chorar a lâmina angustiante da água de amor maternal, da instituição falida da família cristã, dos sonhos roubados pelo Imperialismo norte-americano e da possibilidade de morrer a qualquer momento por um tiro na cabeça em pleno final de semana noturno. Elas querem a vida e querem brincar com a morte.  Querem constantemente a reinvenção de seus atos, querem revolucionar a peça, querem provocar a plateia e convidá-la para subir ao palco para brincar de fazer poesia. São personagens-bomba vão explodir a qualquer momento e matar milhares de pessoas que estão ao redor.

Certas personagens nunca, de fato, nós – escritores – conseguimos realmente se despedir. Mas elas já ganharam as suas pernas. Aí, nós ficamos preguiçosos, porque não queremos que elas fujam de nossas rotinas e de nossas canções, é inconsciente, esquecemos de escrever suas histórias, porque elas já exigem a escrita. Elas querem o verbo, querem estar verbalizadas em papéis brancos. Os escritores, depois de tantos conflitos, perdem a batalha por causa de tanta perseverança e persistência dessas personagens, captando as incoerências de seus discursos e dando asas para seus ódios preservados. Os sentimentos críticos e confusos das personagens inacabadas acumulam-se por muito tempo, mas atacam desprevenidamente e conquistam a verbalização de seus dramas para sempre.  Certas personagens são tão encantadoras que fazem praticamente parte de nossas vidas a ponto de sentir saudades. Sinto saudades...

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O Germe Social

O escritor é expelido como um germe no vulcão das misérias e desigualdades sociais de uma sociedade que ainda preza valores fúteis e consumistas. Um germe que parasita em diferentes bueiros sociais, quer vestido de ouro, quer vestido de papel.
Numa humanidade que ainda segrega campos de conhecimento (totalmente) conectados, terminando em discussões infrutíferas de verificar a importância entre matemática e estudos filosóficos. Nota-se ainda a insistência da fragmentação ao invés da procura pela unidade, pela incerteza social incomum, o trabalho coletivo. O escritor é um germe insignificante, irreconhecível e incomunicável (Infelizmente muitos morrerão incompreendidos!). A sensibilidade morreu com a educação e renasceu nas cinzas, alguns vermes, seres domesticáveis para punhetar diante de sites pornôs – nem saem mais de casas atrás de putas.
Cada geração – à mercê desse mecanismo político carnificizante – vai parir um escritor mais feroz que o outro. A inquietude dominará cada palavra ácida, cada som impuro, cada expressão explosiva e cada leitura tóxica. A experiência literária não vai transformar ninguém que não tiver abertura para essas questões sufocantes. Sem tristeza e angústia, ninguém será abalado pela seriedade dessa experiência. As palavras entrecruzam com as experiências vividas. Nobre leitor, és um estupendo escritor iminente! Às vezes, és ainda melhor do que este que escreve a ti. Entretanto, eu não sou nada sem essas palavras, você não é um leitor sem mim e, sem ter escrito esse texto antes, eu não teria a desculpa de conversar com você. Somos um só vivendo a experiência artística, depois dela não seremos mais os mesmos.
No final, a experiência literária gera sujeitos produtores  de outras experiências; às vezes geram na vida; às vezes geram na arte. Não há muitas utilidades práticas em nossas escolhas, mas é melhor que escolhemos as escolhas inúteis que melhor nos agradam. Assim, eu vendo a literatura como um presente grego (romano ou venenoso), que não serve para nada imediatamente, mas que mudará a sua visão de mundo a partir dessa leitura ou da próxima. Os germes sociais ainda dominarão o mundo!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

pequena poesia da tristeza

uiaiuiuiauiauiuai buábuábuá
                                      glup glip

euvoupralugarnenhumpralugaralgumlugarnenhum

césumiu! 


uiaiuiuiauiauiuai buábuábuá
                                      glup glip

sabedoria antiga

todos os estudos são inúteis diante da intangibilidade da vida

o amor é mais do que monografias e artigos
cultos

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

semibeijo

a pior coisa  é boca com boca
o espaço respirando os suspiros
os silêncios

excita mais do que mil beijos