quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Ventre

A menstruação pode ou não estar ocorrendo em meu corpo, minha barriga clama e os ovários são o meu maior mistério. Será um filho ou um aborto? Estou prestes a me parir de novo ou vou parir outra vida iminente? As palavras fogem-me, - e ainda tenho alguns defeitos, - escrevo querendo agradar. (Não deveria, sei que não deveria).
Quero viver sem ter que pedir autorização dos meus pais, mas tenho um medo que a minha vida inteira seja uma ficção, um enorme fracasso! Meus pais possuem um controle vital em minhas ações a ponto de toda a identidade, até então construída por mim, não consiga separar-se totalmente da vida deles. Eu os culpo, mas deveria culpar a mim que tenho medo de impor os meus valores e assumir as consequências desses atos. O meu ventre pode gerar um futuro que poderá me destruir ou poderá criar novos valores.
Tenho medo de morrer sozinha. Não falo de amor, quer dizer, de um homem ao meu lado, falo de pessoas que gostam de estar comigo. Talvez eu devesse abandonar completamente a ideia de ser artista que suscita a perda total, inclusive de todo ou qualquer resquício de moralidade cristã e de tudo que relembre o patriacalismo. A liberdade e a solidão são necessárias para criação, no entanto, mesmo sabendo da minha possibilidade de fracasso total, eu quero criar, qualquer coisa, qualquer merdinha ou patifaria furada. As palavras – fonte de insufocável  solidão – são preciosas, porque alimentam a minha individualidade medíocre que me comporto. Assumo que o meu fracasso é inevitável, mas também assumo que me é indispensável continuar criando.
Talvez eu consiga me parir ainda esse mês, mas é sempre o mistério toda a irregularidade das minhas regras. É sempre perigoso o risco que eu tenho de ter problemas, viver na dúvida, viver nessa inteira confusão e nesse desespero, poderia incitar o brotamento de palavras desconhecidas ao meu ser, por exemplo, gravidez, filho ou a possibilidade imediata de aborto. Meu sangue que tanto escorre costuma sujar demais os meus pensamentos, costuma me fazer chorar palavras que pouco importam aos machos, palavras tão mulherzinhas que, mal ou bem, requer sensibilidades além do feminino.
Infelizmente, tenho a ousadia de ser eu mesmo, o problema é que a sociedade rege tantos papéis sociais sobre o feminino e o masculino que uma pessoa assumindo a sua identidade para o mundo é motivo de loucura. Vou desagradar, tenho tanto medo, vou atrair inimigos e os nossos amigos normalmente não costumam acompanhar as questões reais do cotidiano. Eu sou carente, detesto fazer coisas que eu sei que as pessoas não gostam, mas também não posso fazer coisas que eu não gosto. Não posso me trair.

Um comentário:

  1. Feminina, artista, menina. E, também por isso, humana. Eis a santíssima trindade!

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