sábado, 15 de outubro de 2011

Coisas de amor (?): Eles e Elas

I

Ela distraidamente organiza o seu boneco, ele sentado observa-a como quem não apercebe os seus próprios olhos fixos a uma coisa:
- você me acha então pegável?
Ela solta um risinho e responde:
- é tão pegável que já peguei, né! – ambos riem.
- você é linda!
O sorriso da menina alumina e deforma todo o espaço, ele se desarma e fica sem jeito com o rosto brilhante e estranho da coisa que a olha também.
- eu devia escrever um poema pra você
- mas eu não mereço um poema inteiro – ele responde - , isso é muito pretensioso, talvez um haikai... não mereço tanto
- já que não merece vou te dar uma palavra. O problema é que eu não sei qual palavra eu poderia definir você, a não ser uma que não tenho coragem de usar a que não conheço o nome.
Ele ri meio encabulado e, um tanto sem jeito com as palavras, diz:
- você é encantadora!
Ela fica desarmada, encabulada, com vontade de sair correndo de lá, embora fica imediatamente com repudio dessa ideia, a fuga implicaria em abandoná-lo e sentiria saudades além dos seus beijos, mas de todo o ele. Pensar em fugir, suscitaria em um sentimento inexplicável, pois sentiria saudades da voz e da boca. Mas, a inibição arrebata-a a possibilidade desse sentimento invadir todo o seu estado natural, será que era só saudades? Será que ela estava se perdendo em toda aquela ilusão de amizade? Ela queria tanto, mas tinha tanto medo. Não era amor? Se fosse amor não poderia ser tão assustador. Alguém que roubava um pouco das suas salivas e a cobria de olhares distraídos e invadisse tanto o seu conforto individual. Batia tantas saudades... Saudades que sentia dele antes mesmo de terminar o próximo beijo, antes mesmo de ele abraçar o seu corpo, antes mesmo de reencontrar seus olhos distraídos e sonolentos, enxergando-a inteira, tanto despudor, quanta ousadia! Como ela o queria tanto, morreria de tanto susto e desejo?

II
  
Quando eu estou com você fico com tanto medo – ele diz próximo dos seus ouvidos – que sei lá...
- mas fica sem jeito por quê?
- você parece sempre ter as palavras na ponta da língua.
Ela abre um largo sorriso e não diz nada, beija-o docemente e sente os lábios dele ardentes.
- namora comigo? – ele pergunta.
- namorar? – ela fica encabulada, nunca ouviu tal pergunta solta tão espontaneamente – mas já não estamos fazendo isso – ela ri.
- não, não. Você é tão bonita! Fica comigo, minha vida, fica comigo pra sempre – as palavras sufocam-se nas respirações sôfregas.
Ela olha assustada essa proposta. Para sempre é muito tempo, será que a efemeridade da vida propiciaria esse desejo infinito? O silêncio dele responde com seus olhos e ela, meio sem jeito com o próprio silêncio, toca-lhe o peito do homem e seus dedos brincam com os pêlos dele e finamente diz:
- quero você aqui e pra sempre será feito agora – uma voz humilde sincera sai espontaneamente.
Ambos se entregam ao amor com medo da vida atirar a sua bala e terminar em morte o mundo dos amantes efêmeros.

III

Elas encontram o Uruguaiano, apelido de um velho amigo palhaço que não conversam faz quase dois anos, e se convidam para tomar cerveja. O palhaço paquera a menina ao lado que possui um cabelo negro.
Ela e Ela sorriem tão distraidamente, esquecendo que existem outros ao redor, brincam com o celular da outra e fingem ciúmes da menina bonita de cabelos negros. O uruguaiano pergunta:
- e aí vão casar ou não?
Elas sorriem com tanta felicidade de amor e respondem praticamente juntas:
- nem a gente sabe – e beijam-se na boca com a harmonia dos apaixonados que fazem questão de amar aos ventos e aos céus.
A menina de cabelos negros diz:
- Vocês estão tão lindas! – Elas sorriem com um brilho atraente, esquecendo-se da própria beleza nem agradecem a menina. Só iluminam! 

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