quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O caminho de Manuela

No meio do caminho, tinha uma pedra e ela caiu por causa dela.
a viela não era que nem a mazela que foi quebrar a perna,
a pedra pedrufou o pé de Manuela.

Tinha uma pedra grande e imensa nesse caminho
Manuela, manca, mal andou naquela viela

O pé,machucado e sangrento,doendo
Caminhava três passos sofrendo
Manuela camelava e indo
deixava de andar sorrindo

O vento uivava, a chuva molhava
O carro passava e molhando, por fim, os cabelos aloirados de Manuela,
suja, cinzenta e machucada. Ela voltava pra casa

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Caminhar e O Metrô

O grande movimento, o maior de todos que é feito, não é continuar vivendo; enganam-se. Mas é o de andar, sempre foi o movimentar os pés, o esquerdo pra frente e , ao contrário, o direito para trás. Assim, sucessivamente, movendo-se numa progressão aritmética (tanto crescente, quanto decrescente). Apesar de também ser possível movimentar-se numa progressão geométrica. Contudo, o raciocínio, que melhor pode ser inicialmente desenvolvido, é o da P.A, a primeira noção constante de soma, ou de subtração, desse movimento com os pés: o andar.

Ninguém sabe andar, ou realmente ficar em pé. Fica-se em pé quando a coluna, os pés paralelos e a prontidão estão, conjutamente, em harmonia para iniciar o maior movimento de todos. O corpo levanta um pé e depois o outro, direito e esquerdo, direito e esquerdo. A música muda, a ordem dos pés também muda: esquerdo e direito, esquerdo e direito. Anda-se, realmente, quando é notável quais dos pés vão primeiro e como são colocado em contato com o chão.

Ao sair do metrô, o modo como os paulistanos andam é parecido com uma marcha militar. Tem vezes, que voltando para casa, eu me sinto numa esfera disciplinar ao mesmo tempo bela e feia. As pessoas com pressa, correndo, cansada, descendo as escadas e, na maioria das vezes, barrando a passagem de outros na escada. Sempre dou risada, me sinto como atriz de um espetáculo contemporâneo em que nada se complementa, mas tudo é plástico, é misturado, tudo é um balé urbanizado.

Todos andam, as vezes, não com os pés. Os animais andam, e isso os fazem tão iguais a nós, indivíduos que vivem numa animalia humana, sendo esses bípedes deformados que andam sempre apressados com medo de nunca realmente aproveitar o dia. A cidade grande é o bom lugar de perceber que o homem perdeu a capacidade de pensar com o caminhar; o andar deformou-se tanto que ficou até bonito. Sempre quando vou de metrô fico maravilhada com essas pessoas que andam para e vão para, indo, indo, tornando esse caminhar em um balé sujo de cidade grande, essa dança estranha que é morar em São Paulo.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Pontos Pontuais

Frases que nunca viraram crônicas

A intenção dessa crônica é mostrar para os leitores, as milhares de possibilidades de crônicas que não foram escritas. Sabe, aquelas frases soltas que só pairaram no ar, mas nunca viraram crônicas. Quando isso acontece comigo, eu fico bastante brava, mas anoto-as, uma hora ou outra (ou não), elas vão servir para algum esboço.

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1) A vida é um intervalo entre o nascimento e a morte. Viver é apenas o movimento disso;

2) Quando eu estou com você, eu não sei o que falar, falo o que me vem na cabeça. Disse ele, no quarto, agarrando-a sem cobertas. Ela riu, porque não sabia o que dizer;

3) Quando eu choro, penso se as lágrimas são realmente minhas, ou são dessa minha tristeza;

4) Conhecer uma realidade sabendo o limite dela, é (talvez) compreender que nunca se foge realmente desses muros tirânicos;

5) A fuga é o meu maior ópio;

6) A personalidade, que eu resguardo, é um metodismo caótico;

7) Nunca seremos livres;

9) Os idiotas agradáveis são verdadeiramente inesquecíveis. O que seria de mim sem eles;

10) A minha ideologia é a arma tirânica que me reprimi;

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As crônicas nunca fugiram dessa coisa chamada pensamento, ficaram por lá, estáticas. Elas viraram estátuas, peças antigas que servem para serem contempladas, visitadas e revisitadas. Essas peças de museu são a memória desse pensamento que, por mim, não vão ser esquecidas. Ao término do passeio, por elas, vão ao quarto de vocês e façam um trabalho com a memória. Quantos pensamentos forão pensados e quantos encontraram a possibilidade (in)grata de vir a ser ação? Quantas cartas não foram mandadas? Quantos romances inacabados? Quantas mortes não foram matadas? Quantos suicídios não aconteceram? Quantos contos não foram contados? Quantas cenas poderiam ser realizadas?


Depois de tanta nostalgia, a vida renasce sem soar o dia. A gente vai vivendo e não se apercebe, quando vê, tudo acontece. As perguntas sem respostas, os acontecimentos sem memórias, tudo que é dito, tudo que é o não-dito, acabam, sem querer, também fazendo parte dessa história que foi inventada. A nostalgia também é vida e o não-dito vira história.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A Canção Disritmia

Passeando despreocupadamente pelos vídeos no site do Youtube, de repente, eu me deparei com uma canção chamada Disritmia enquanto apreciava algumas interpretações do Ney Matogrosso, e essa canção ele cantava junto com o Paulo Luís, acabei me encontrando justamente com esses versos e essa música, fiquei maravilhada. Havia outras interpretações dessa canção (peguei mania de ver outras interpretações da mesma canção) que foram feitas por músicos como Martinália, Zeca Baleiro e Martinho da Vila.

Ô Deus, me assustei. Nunca gostei do Martinho da Vila, tinha um certo preconceito por sambas e pagodes, subestimava o valor cultural disso aí, mas estava enganada. Disritmia é uma canção magnífica, - ô gente! – e ela foi composta por Martinho da Vila, tão bela, tão disforme e tão preciosa. O ritmo de samba, - xim xim x xamb, - sempre fora o meu grande encanto e encontrá-lo na voz do Martinho da Vila, para mim, foi uma grande descoberta. Tem uns momentos que a voz dele fica meio nasal, um pouco fanho.

Durante dias, eu não dormia. Só pensava nessa canção e na voz do Martinho da Vila, fiquei mais curiosa ainda e ouvi outras coisas dele, mas nada me impressionou tanto como essa canção (eu admito). Ouvia e não parava mais, ia trabalhar e os meus colegas percebiam-me cantando, então, vinham com uma pergunta: “que música é essa?”. Eu respondia: é do Martinho da Vila. Eles me olhavam com um rosto estranho, quase como se dissessem, - você gosta mesmo disso? . Se alguém me perguntasse isso, acho que como eu sou tão notavelmente conveniente com o jogo, responderia sim, mas que só era aquela, acho que seria essa a minha resposta. Ainda bem que nunca me perguntaram.

O Ney Matogrosso e o Paulo Luís, na versão que segue abaixo, deram uma personalidade e uma atualidade nessa canção, tão indescritível. É difícil escrever sobre essa canção sem se emocionar, quando a escuto fico claramente abobalhada. Essas horas que eu chego a conclusão: uma experiência artística realmente bem trabalhada e com uma sintonia de entrega tremenda, entre o artista e o objeto trabalhado, dão-se em um resultado irracional, ou seja, não são postas em palavras logicamente gramaticais. Isso pode ser feito com absolutamente quaisquer ritmos, seja samba, seja rock, seja funk, o que importa é a emoção e a experiência transmitida ao outro. Segue-se o vídeo:







domingo, 1 de agosto de 2010

Divagações ao vento

Tudo que o homem faz são especulações sobre a vida, o amor, a civilização, a arte e a política, um homem que nunca fez esse prazer de especular, não compreendeu metade da sua vivência na terra, e quem sabe foi mais feliz, quem sabe não. Ele perdeu o maior prazer de todos, o de criar respostas pra isto.

Fico muito enojada com as respostas prontas, caídas no céu. Às vezes, penso que não sou totalmente espiritualizada por causa desses discursos milagrosos sobre a condição humana e Deus. Se acredito nele? Acredito sim, nunca duvidei na existência de Deus em momento nenhum, apesar de questionar em alguns momentos nessa necessidade Dele ser bom o tempo inteiro. Depois de um tempo, simplesmente, eu parei de pensar em Deus como algo que me julga por todos os meus pecados e as minhas purezas, penso que ele não está preocupado com nada disso (muito menos comigo), e parei de pensar nele, como também deixei de enumerar os meus pecados e as minhas ações puritanas para garantir a minha entrada no céu.

Imagine um cigarro (eu adoro isso). A fumaça sumindo e vaporizando todo o meu nervosismo de existir, acabando com o que resta da minha respiração vaga e do meu olhar poluído purificando a minha alma inteira. Isso não é nada, apenas a minha maior felicidade. Me exijo demais, e o engraçado é que gosto de verdade é do vento, para mim, o meu momento preferido é esse mesmo, o de só fumar. Se há momentos de felicidade suprema é quando nada se pensa, as crianças sentem melhor porque apreciam o vento batendo no rosto e sobrevivem, a carga imensa de lucidez da infância delas, correndo atrás de pipas e de outras crianças. Elas sabem brincar e se divertir, esquecendo-se dessa necessidade imprudente de sempre desejar um Deus bom, justo e poderoso.

Antes eu tinha tanta criatividade, isso soa um tanto romântico. Mas é verdade. A minha ousadia quando menina era imensa, às vezes, eu penso que perdi ela completamente, cadê aquela coragem que tinha de enfrentar dragões e soldados. Que eu gostava mesmo era de vento, e não de homens, e não de mulheres, e nem de gatos, só de vento!

Primeira hora

A Normalista Vinte e Dois nasce aqui nesse exato instante, o nome é esse por causa de uma música, que eu me identifico, também chamada Normalista, interpretada por Nelson Gonçalves. Eu me chamo Mariana é um prazer! Sou mais de crônicas, pelos menos, eu tento.

Os meus amigos falam que sou um tanto temperamental, não os culpo, sei que a minha personalidade é um pouco complicada. As músicas, que eu escuto, me influenciaram assim, (acho). Enfim, bem-vindos, esse é um blog para bobeiras vomitadas, passionais e breguíssimas!