segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Caminhar e O Metrô

O grande movimento, o maior de todos que é feito, não é continuar vivendo; enganam-se. Mas é o de andar, sempre foi o movimentar os pés, o esquerdo pra frente e , ao contrário, o direito para trás. Assim, sucessivamente, movendo-se numa progressão aritmética (tanto crescente, quanto decrescente). Apesar de também ser possível movimentar-se numa progressão geométrica. Contudo, o raciocínio, que melhor pode ser inicialmente desenvolvido, é o da P.A, a primeira noção constante de soma, ou de subtração, desse movimento com os pés: o andar.

Ninguém sabe andar, ou realmente ficar em pé. Fica-se em pé quando a coluna, os pés paralelos e a prontidão estão, conjutamente, em harmonia para iniciar o maior movimento de todos. O corpo levanta um pé e depois o outro, direito e esquerdo, direito e esquerdo. A música muda, a ordem dos pés também muda: esquerdo e direito, esquerdo e direito. Anda-se, realmente, quando é notável quais dos pés vão primeiro e como são colocado em contato com o chão.

Ao sair do metrô, o modo como os paulistanos andam é parecido com uma marcha militar. Tem vezes, que voltando para casa, eu me sinto numa esfera disciplinar ao mesmo tempo bela e feia. As pessoas com pressa, correndo, cansada, descendo as escadas e, na maioria das vezes, barrando a passagem de outros na escada. Sempre dou risada, me sinto como atriz de um espetáculo contemporâneo em que nada se complementa, mas tudo é plástico, é misturado, tudo é um balé urbanizado.

Todos andam, as vezes, não com os pés. Os animais andam, e isso os fazem tão iguais a nós, indivíduos que vivem numa animalia humana, sendo esses bípedes deformados que andam sempre apressados com medo de nunca realmente aproveitar o dia. A cidade grande é o bom lugar de perceber que o homem perdeu a capacidade de pensar com o caminhar; o andar deformou-se tanto que ficou até bonito. Sempre quando vou de metrô fico maravilhada com essas pessoas que andam para e vão para, indo, indo, tornando esse caminhar em um balé sujo de cidade grande, essa dança estranha que é morar em São Paulo.

Um comentário:

  1. É engraçado, também, e ainda truculento, o andar dos usuários de ônibus em Curitiba. Empurram, cotovelam, se espremem, trocam as pernas entre tubos, canaletas e escadas.

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