sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Problema do Eu-Lírico e a Filosofia

Não devia fazer isso: escrever pensando na estética. Os leitores vão ler-me com raiva, porque lerão patologias literárias, diagnósticos filosóficos/ sociológicos/ históricos/ estetizantes; não poesia. Ninguém precisa saber de todas as dificuldades que o escritor sente na escrita (só algumas), os leitores não precisam saber que eu fundamentei a minha literatura em Marx, Weber, ou a puta que pariu. Pra quê? É texto literário ou texto científico? Faço a pergunta a vocês leitores: o que ganham sabendo que a minha maior influência filosófica é Thomas More? É sim. Sou assumidamente utopista e influenciada por um inglês. (Tem hora que penso que se eu fosse fazer filosofia, escreveria um ensaio falando de como esse idealismo-(proto)socialista inglês, na época do Renascimento, de repente se transformou analogicamente no mundo mercenário de Bentham: “O dinheiro é o instrumento para medir a quantidade de prazer ou de dor”. Mas essa dúvida tomaria-me muito tempo; com certeza, eu não escreveria. Não eu. Apesar da dúvida ser sufocante).


Entretanto, na literatura que escrevo essas ideologias são expressas nos sons das letras; na maneira que escolho entre a palavra X ou Y; nos conflitos que as personagens enfrentam. As ideologias existem enquanto universo literário, não necessariamente há uma obrigação em reconhecer os nomes de filósofos e citações de outros poetas. É muito fácil classificar um bom poema: ele toca na alma. Devo ter feito a bobagem de escrever uma frase de senso comum, mas essa é a ideologia primária e não tenho pretensão de afastar dela. Os homens já afastaram-se demais dessas ideias primárias (bobas), de bondade, de respeito, de brincar, de amar, de beber, de comer e de cantar. Atualmente, a vida é vivenciada para pagar as contas. Só.

Quanto a Filosofia e a Literatura, tem horas que essas amantes são extremas e infernais, tem horas que são suplicantes e divinais. O problema do meu eu-lírico com elas é que há uma contradição interna na imagem, às vezes as odeio com todas as minhas forças, às vezes são somente elas que fazem a minha vida ter sentido, então, as amo com todas as minhas energias. Não consigo separar a Literatura da Filosofia assim como a História está impregnada em ambas, distante, próxima, inconsciente, - ora uma deusa Hera, ora uma deusa Afrodite.

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