sábado, 10 de setembro de 2011

Bossa Nova e Rock n’ roll: Observações sobre evoluções desprecisas de uma história

 ao meu amigo Monteiro que me ensinou
algo de rock 
algo de futebol 
um pouco de lamentação 
algo de alma

Nada é tão precioso a ponto de ser eterno. As boas músicas efemerizam a nossa realidade e eternizam as nossas memórias; quando menina ouvia Toquinho, Elis e Vinicius mais do que bebia água. Aprendi a tocar violão, porque gostava de blues e imitar os acordes difíceis da bossa nova. Ouvia rock, mas não me cabia qual era o motivo, a chama subversiva não me contagiava. (Desde cedo, eu saquei que artista não tem que agradar, os melhores iam em direção contrária do sentido imposto por algum patriarca).
Mas houve uma mudança tão profunda em mim, conheci um moço gordo de olhos azuis e melancólicos, um vagabundo, um indivíduo típico de histórias norte-americanas, que bebe mais conhaque do que água. Ele ouve emaranhados de Engenheiros do Hawai como se as canções fossem dele, contagiou-me com uma certa efusão de tristeza que já tinha me esquecido, transformando os meus ideais em litros de cenas alegremente depressivas, todos os gritos reprimidos foram soltos na pinga e no rock.
- bruninha, o rock salvou minha alma, mas estragou o meu corpo! – e com uma risada rouca reiterava – e o que cê acha do bota fogo?
Por trás de tantos risos, a fumaça esvaziava um olhar doce, evidenciando um caminho tão longo que lhe dava licença de utilizar tantas palavras dionisíacas. Não era um amigo que se cria um vínculo eterno, logo desvincularia por completo. Seria rapidamente órfã dele assim como fui com a Amanda, a Tais e a Clarice. No final, teria que saltar os muros impostos com minhas próprias pernas e acobertada com seu rock n’ roll, o sangue contínuo de suas palavras.
- eu era tão bossa nova que tinha me esquecido do rock, - confessava ao meu amigo
- eu tenho uma teoria da bossa nova, às vezes é bom ficar no violão e no banquinho, mas depois eu volto pro rock and roll pra botar os pés no chão –  tragando inexpressivo outro cigarro malboro.
Acho que durante muito tempo, perdi-me em mim. Influenciada demais por minha bela subjetividade, muito mulherzinha, viciada demais com tantos intelectualismos, sem gritos, sem inquietudes pra fora, sem sexo, sem porres, estava demais sóbria. Com tanto equilíbrio, tinha me esquecido das minhas metamorfoses, precisava inventar o amor, precisava inventar um drama. O mundo estava inexplicável de novo, os sentimentos voltavam com rangidos finos de guitarra, a rebeldia contagiava-me, agora podia assumir um pouco de poesia. O rock tinha me salvado! Me colocou de novo no chão tão bossa nova, uma alma contaminada por muito intelectualismo.
- bruninha, eu não quero que te falar o que eu sei, não quero que você se torne eu, porque eu vou embora, então não sou seu exemplo. Sou um herói errado, nem tenho o corpo de dezoito mais, sou gordo e perto da morte.

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