domingo, 11 de setembro de 2011

A Leila Diniz, as coisas de atriz

Existem certos lugares comuns quando falam sobre a figura monumental de uma atriz. Leila Diniz que lia Pasquim; Leila Diniz que trepava pra caralho; Leila Diniz que gostava dos canalhas; Leila Diniz que não escondia o que sentia; Leila Diniz que não encena personas na vida, só cenicamente; Leila Diniz que morreu na idade épica, sendo jovem para sempre.
Qual é o mistério do mundo dionisíaco? A atriz enxerga toda a plateia nos olhos, não se consome de medo, não demonstra seu receio de enfrentar a fantasia de dramas que não existem na vida real, no entanto a mágica acaba. A vida retorna, ela é atriz, Leila Diniz que trepa pra caralho, mas comprando jornal, chocolate e frutas pela manhã. Caminhando para o tédio de uma reunião familiar em pleno domingo de sol, encenando uma menina meio comportada para não ter que explicar tudo, a família grande diz que ela não sabe o quer. Leila Diniz responde: “eu só quero é me divertir....”
A atriz, com raiva, nem perde seu tempo com papo cabeça, porque insistem em querer vê-la chorar só para demonstrar toda sua competência cênica no mundo real. A vontade que dá é em mandar todo mundo tomar no cú, mas calmamente responde: “ atriz faz os outros chorarem, se pra ser atriz bastasse simplesmente demonstrar as lágrimas como palhaço de circo, então teríamos centenas de Bibi Anderson e Cacilda Becker”. Eles riem, Leila Diniz olha com pena e desprezo e desiste do papo cabeça familiar, escolhe definitivamente a figura de uma burra e vadia que não sabe o quer. Pelo menos, atriz se diverte mais fazendo isso do que provocando pensamentos inteligentes.
Nota que as pessoas estão mais velhas, ela está mais jovem. As musas demoram séculos para nascerem, os olhos penetram a libido de alguns homens, ela desaparece como os canalhas e esquece como os vadios. Distraída, a atriz gosta de depreciar o seu trabalho para lembrar que não aprendeu nada útil sobre o combate da vida. Além das coisas importantes do gênero humano, o ser humano muda, o ser humano mente, o ser humano caga, come e transa, o ser humano é estranho e nem sempre ele é protegido por deus. Leila Diniz pensa que o mundo seria melhor se tratassem deus utilizando o pronome você e não vós. Ela conclui que, amadurecendo, se tornará melhor arteira, pois os despudores vão se apropriando de seu corpo. Aos poucos, a vida complica-se mais e mais e fica mais divertida.

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