quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Do Amor

Evito falar do amor intelectual, do amor ideal, do amor civilizante e do amor carnalizante; evito dizer coisas, ao vento, dos objetos amados, respectivamente, os que me corresponderam e os que não me corresponderam. Não gosto nenhum pouco da ideia de amar porque é preciso, ou porque uma pessoa me faz falta. E, de vez em quando, eu amo.

Eu tinha amiga chamada Bruna que queria muito escrever sonetos de amor, existia nela uma obsessão pela perfeição da forma desse soneto e a mensagem solene, também igualmente bela, que haveria nesse amor de signos a ser transmitida em poesia. A Bruna nunca conseguiu escrever sequer uma palavra, apenas algumas ideias lhe sondaram antes de dormir, mas elas nunca se realizaram verbalmente.

Ela amou esses sonetos, irrealizáveis, como ninguém jamais havia amado. Nada me pareço com a minha amiga poetisa, temos obsessões diferentes. Às vezes, eu me acho um tanto mais ingênua que a Bruna, porque ela pensava com malicia e carinho na forma estética daquele soneto, queria-o perfeito. A poetisa calculava, racionalizava, re-escrevia e tinha raiva das imperfeições rascunhadas daquele primeiro soneto; na realidade, a Bruna queria a glória de concebê-lo inteiramente belo, sublime e sereno.

Não queria mesmo entrar numa conversa intelectual, escrevo sem parar e com bastante raiva. Não quero pensar na coerência do meu pensamento e finalidade desse texto, não queria mesmo entrar nessa conversa de amor intelectual, escrevo porque a carne me exige palavra. O Amor também exige palavras, exige o ódio, exige a cama, o sexo e as noites não dormidas. O Amor me exige muito mais como alguém que não é coisa e que é bicho, é metade gente, metade felino, canino e cavalo. O Amor é a obrigação eterna de sempre saber e nunca saber: se a Sensibilidade é possível, se o Ódio traduz uma mensagem, tão piegas, como eu te amo, se a Loucura é a forma escultural da androginia chamada Amor.

Não queria mesmo entrar numa conversa intelectual. Antes de verbalizarem o Amor, ele já tinha sido carnal, já tinha sido endeusado, já era  respectivamente três: Erô (desejo), Agapô(espiritual) e Philo (amante). Era amor de vinhos vomitados nas mesas e nas gargantas das Bacantes. Não entendo de poesia, não entendo de amor intransitivo, de amor sujo e amor monstruoso, não entendo e nem sei se quero entender desse jeito intelectual. Eu quero o Amor em carne viva, quero cuspir nele e que ele me mostre as suas entranhas, quero amor sem intelectos, só o corpo, só as mãos, só as pernas e sem ideias. A carne viva do amor. A nudez do verbo amar.

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