quinta-feira, 7 de junho de 2012

Conversa entre Ana e Lú

-- você sabe?
-- o quê?
--o que significa escrever?
--significa mentir
-- eu pensava o contrário. Eu pensava que escrever significava se expor. Me revelo mais nas minhas poesias do que aqui nessa conversa com você
-- hum... Não sei, é perigoso se expor. E essa exposição sempre me parece um mito. 
-- um mito?
-- Lú, eu já li os seus poemas, o que eu acho, sabe, é que você criou um mito de você mesma. 
-- mas você não faz isso. Você sempre cria pessoas diferentes de você, enquanto autora
-- o que não significa que essas pessoas também não tenham nada de mim, eu diria que elas, diferentes de mim, são mais parecidas e me traduzem mais do que eu mesma. 

-- mas então... qual é o jeito certo de escrever se expondo ou mentindo?
-- nenhum dos dois. Eu acho. Acho que não tem jeitos certos de escrever. 

-- você tem alguma ideologia?
-- Ah Ana, eu devo ter, acho que todo mundo tem. Você tem?
-- eu tenho. Eu valorizo o homem e essas coisas todas 
-- que coisas?
-- como a relação do homem com outros homens.. Essas bobagens de um mundo menos competitivo e com menos ego... Acho que é por isso que eu gosto de personagens fortes
-- eu não sei, eu acho que tenho, sabe, mas não sei qual é. Tenho medo dos istas e dos ismos 
-- cuidado, você pode virar terra de ninguém. Você precisa se impor, falar o que pensa e tomar partido 
-- qual é o teu partido?
-- eu sei qual não é o meu. Qualquer um que defenda o progresso em cima da miséria 

-- sabe, qual é o nosso problema
-- qual?
-- a gente acha que sabe conversar, mas não sabemos, a gente nunca diz nada
-- a gente só não sabe ainda qual é a nossa potência, mas a gente descobre, é só tentar. A gente precisa sofrer juntas, a gente tem que sofrer e aí a gente aprende


Nenhum comentário:

Postar um comentário