Como escrever? Antes de
escrever, antes de fazer qualquer coisa, vem de súbito uma interrogação. Não
sei responder. Questiono se eu tenho lido o suficiente, dito o que é para ser
dito realmente, amado com autenticidade as pessoas. Não tenho resposta. Estou
perplexa com os acontecimentos. São acontecimentos sucessivos, muitos não
acontecem só comigo. Não sei reagir. Não sei nem se devo agir. Não sei se a
minha ação é condicionada ou necessária. O que sei, e não tenho dúvidas, é que
se eu fechar os olhos, o mundo ainda continuará existindo. Seria egoísmo? Medo?
Covardia? Um pouco de cada desses sentimentos.
Uma subjetividade
exacerbada. Nesse momento, alguns morrem de fome, outros gritam por
reconhecimento. Eu não estou em lugar nenhum. Estou duvidando. Duvidando. É um
erro, na vida como a nossa ainda existe um lugar para as dúvidas? Se existe,
ainda há possibilidade para novas possibilidades? Será que eu não estou
repetindo as questões de metodologia de uma burguesia metida a intelectual?
Será que eu sou uma covarde? Outro EU, narcisicamente, gritando: para mundo! Eu
quero descer. ( É viadagem?)
Como acordar no dia
seguinte? Com o pé direito ou esquerdo ou os dois. Nenhum; quem sabe eu fico
paralisado com tudo e não levanto mais da cama? Quem sabe as coisas somem?
Estarei negando a realidade. Ela continuará existindo. Isso seria covardia.
Então, o que é real? Um ponto de vista. Ou uma verdade fechada e absoluta. A
fantasia se parece muito com a realidade, existem mais semelhanças que
diferenças e é muito comum se acreditar em vontades inventadas.
Como é possível não ter
dúvidas do barulho de uma porta e ter dúvidas da existência do nosso corpo? O
corpo ainda existe mesmo não o vendo inteiramente. Posso não gostar, mas ainda
existo. Existir ou não – eis a grande
questão? Não. Existe a decisão, é preciso se decidir e rápido e já. A minha
vida é muitas. Um projeto de
vida singular escolhe uma humanidade inteira, “[...] Quando, por exemplo, um
chefe militar assume a responsabilidade de uma ofensiva e envia a morte certo
número de homens, ele escolhe fazê-lo e, no fundo, escolhe sozinho. Certamente,
algumas ordens vêm de cima, porém são abertas demais e exigem uma
interpretação; é dessa interpretação – responsabilidade sua – que depende a
vida de dez, catorze ou vinte homens.” (SARTRE). Posicionar-se
diante das experiências banais garante o engajamento na história. Já que somos
reféns da nossa memória, aprisionados pelo destino da escolha de outros homens.
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