quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Divagando com óculos escuros muito estiloso na volta pra casa


A
Então... Pausei de novo. Larguei as minhas responsabilidades para atravessar São Paulo por causa de outro estranho que conheci à toa. Ar seco. Muito quente. Podia chuver, né?
- oi, cê podia me dá algo pra mim comer? Qualquer coisa serve?
-num tenho não, só tenho aqui dinheiro pra passagem
Pra variar, a multidão de homens e mulheres bem vestidos caminhando por aqui, trombando-se com outros, também estressados. Tem coisa que nunca muda, por exemplo, essa Avenida. Continua a mesma, porém, silenciosamente, degradada.

B
Mas, eu? Eu? Claro, eu sou paulistana patriótica. Sou tão paulistana quanto o esgoto do Tietê, porque essa cidade é feito por homens inocentes e limpos, tão cheirosinhos, que se esquecem de limpar a bunda quando saem de casa. Abandonam-se ao odor de bosta, pois acostumaram-se a sujeira patriótica.  A ordem é essa: amai-vos e fedei-vos, juntos irmãos! O progresso é uma coisa emocionante (quase apoteótica!): câmaras invisíveis da última geração espalhadas pela cidade com uma sensação de insegurança rodando o ar (Ou será que é o cheiro do rio Tietê?).

C
Eu prefiro dormir, mas eu acordo. Abro os dois olhos e insisto em ficar sã.
- oi
- sim
- você tem dois minutos pra salvar o mundo? – diz o ativista do Greenpeace
- não tenho não
Engulo a saliva. O sol penetra meus olhos. Ando. Eu vou comer um miojo que não vai matar a minha fome hoje à tarde. Será que eu pego esse ônibus ou outro?

D
Do nada, esperando o tempo ficar meu amigo e chegar logo em casa. Pensei algo insignificante: puta, faz 220 anos que aconteceu a Revolução Francesa! Quantas vezes o capitalismo revolucionou de lá pra cá? Eu sou fruto de tantas memórias de porcarias e violência. Mesmo não sendo francesa. Também nem precisa, meu Brasil do doril e anil, tem nome de remédio e não tem a cura do câncer nem da AIDS. Brasil, meu Brasil, por que você ainda gosta de fazer crianças se faz tempo que a miséria toma no seu rabo e diz que aqui não tem mais espaço pra mais homens doentes?
Meu Brasil! – o seu lema é: “ A Merda e Os Fudidos”. 

E
Mas o Brasil é o país do futuro. O Itaquerão é o centro do universo em 2014. Esse país ainda vai pagar a conta da crise econômica mundial. Sim! Os fudidos vão doar o sangue, os fudidinhos e o coração para alimentar a economia internacional, a merda vai adubar o projeto capitalista.  O Brasil é o super-homem!

F
Quem diria? Eu, em plena juventude, assistiria de perto uma mudança da nova ordem mundial. O gigante vai morrer. Está morrendo.

G
Cheguei. O tempo passado é um agora cheio de séculos. 

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