A
Então... Pausei de novo. Larguei as
minhas responsabilidades para atravessar São Paulo por causa de outro estranho
que conheci à toa. Ar seco. Muito quente. Podia chuver, né?
- oi, cê podia me dá algo pra mim
comer? Qualquer coisa serve?
-num tenho não, só tenho aqui dinheiro
pra passagem
Pra variar, a multidão de homens e
mulheres bem vestidos caminhando por aqui, trombando-se com outros, também
estressados. Tem coisa que nunca muda, por exemplo, essa Avenida. Continua a
mesma, porém, silenciosamente, degradada.
B
Mas, eu? Eu? Claro, eu sou paulistana
patriótica. Sou tão paulistana quanto o esgoto do Tietê, porque essa cidade é
feito por homens inocentes e limpos, tão cheirosinhos, que se esquecem de
limpar a bunda quando saem de casa. Abandonam-se ao odor de bosta, pois
acostumaram-se a sujeira patriótica. A
ordem é essa: amai-vos e fedei-vos, juntos irmãos! O progresso é uma coisa
emocionante (quase apoteótica!): câmaras invisíveis da última geração espalhadas
pela cidade com uma sensação de insegurança rodando o ar (Ou será que é o cheiro
do rio Tietê?).
C
Eu prefiro dormir, mas eu acordo.
Abro os dois olhos e insisto em ficar sã.
- oi
- sim
- você tem dois minutos pra salvar o
mundo? – diz o ativista do Greenpeace
- não tenho não
Engulo a saliva. O sol penetra meus
olhos. Ando. Eu vou comer um miojo que não vai matar a minha fome hoje à tarde.
Será que eu pego esse ônibus ou outro?
D
Do nada, esperando o tempo ficar meu
amigo e chegar logo em casa. Pensei algo insignificante: puta, faz 220 anos
que aconteceu a Revolução Francesa! Quantas vezes o capitalismo revolucionou de
lá pra cá? Eu sou fruto de tantas memórias de porcarias e violência. Mesmo não
sendo francesa. Também nem precisa, meu Brasil do doril e anil, tem nome de
remédio e não tem a cura do câncer nem da AIDS. Brasil, meu Brasil, por que
você ainda gosta de fazer crianças se faz tempo que a miséria toma no seu rabo
e diz que aqui não tem mais espaço pra mais homens doentes?
Meu Brasil! – o seu lema é: “ A Merda
e Os Fudidos”.
E
Mas o Brasil é o país do futuro. O
Itaquerão é o centro do universo em 2014. Esse país ainda vai pagar a conta da
crise econômica mundial. Sim! Os fudidos vão doar o sangue, os fudidinhos e o
coração para alimentar a economia internacional, a merda vai adubar o projeto
capitalista. O Brasil é o super-homem!
F
Quem diria? Eu, em plena juventude,
assistiria de perto uma mudança da nova ordem mundial. O gigante vai morrer.
Está morrendo.
G
Cheguei. O tempo passado é um agora
cheio de séculos.
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