domingo, 11 de novembro de 2012

O Cenário Político Brasileiro


(isso não é uma tese, é um depoimento) 


O que mais incomoda hoje em dia é que eu não tenho ideia (e talvez medo) de apoiar assumidamente qualquer partido político. Falar abertamente do que representa PT, PSDB e etc, hoje em dia, é um debate infinito, acobertado por uma série de hipocrisias, preconceitos estúpidos e ódios mortais. Não conhecendo o processo histórico com absoluta firmeza. Vivenciando um momento de booms (booms de ideias políticas, de preconceitos escancarados e de criações estéticas esparsas), ficar perdida com tantos acontecimentos, apercebendo-se uma fagulha de pó ao meio de tantas pedras sólidas e maduras, tem momentos que, simplesmente, não sei o que fazer. Não sei o que falar, só tenho perguntas. 

Meu primo me deu o primeiro contato com política. Acho que estive em uma passeata [eu acho] embaixo no MASP, defendendo imagino o PCdoB. Thiago ainda conheceu com mais intensidade o governo FHC, eu conheci o Brasil-Lula e, nesse momento, o Brasil pós-Lula. Sempre, ao PT, ouvi críticas negativas dentro de casa. Muitas vezes, influenciada por minha família pensei em defender partidos da oposição. Eu sempre gostei de ler, me interessava por textos de ficção desde criança, então, quando entrei na faculdade a minha intenção sempre foi, - talvez para preencher o espaço vazio desse passado brasileiro que ninguém fala, - falar do Brasil, escrever sobre esse país, ler os escritores daqui, conhecer as pessoas daqui.

O que eu quero, talvez, é falar o que significa viver essa confusão de perspectivas, existindo no meio disso, tentando criar uma espécie de dignidade e lucidez diante desse mundo de tagarelas que não estão interessados em expor os pontos de vistas esquecidos. Julgam os inimigos sem ao menos estabelecer as contradições. A impressão que eu tenho é que eu vivo no mundo de tagarelas. Isso é um fato. Ninguém fala de passado nenhum, o nosso passado é muito farto, mas o presente é muito desejado, no entanto, me parece um tanto impalpável, invisível, muito indeciso. É um mundo de melodramas e tagarelices.

Se eu vivesse na metade do século XX, apoiaria sem pestanejar PCdoB ou PCB (reformistas x revolucionários; partidão x porra loucas) . Ou mesmo, viveria como a Leila Diniz, amiga dos poetas, amante dos homens, amada por cineastas. Porra louca total! Uma dessas vadias imortais no mundo e que escancarou as contradições da esquerda. Tais contradições que ainda estão presentes no dia de hoje, talvez mais abertamente, afinal vivemos num país democrático, hoje os atores podem assumir os seus papéis e expor as suas plataformas políticas no meio do teatro político. Nesse jogo, esse gênero cotidiano, mais vivenciado pelos civis da sociedade, chamado política, é levado, até as últimas consequências, a várias experimentações estilísticas e estruturais. Os jornais brasileiros tendem a transformar esse jogo em melodrama.  Já a extrema esquerda gosta de se fazer de santa, transformando esse jogo em melodrama negativo, nem PT é confiável, nem PSDB é, tudo é faria do mesmo saco. (Walter Benjamin chamaria esse fenômeno social de estetização da política; aliás, ele diria que isso é um péssimo sinal, que deveria acontecer o oposto, a politização da arte). Muitas esquerdas insistem em falar que vivenciamos uma ditadura militar, não sei se por romantismo ou por insistência em se tornar heroica.  O que é terrível, um país que precisa de heróis, é uma nação pobre e fragilizada.

De qualquer modo, a zona de guerra mais conhecida no cenário político está entre PT e PSDB. Ambos partidos políticos fortes, cheio de picuinhas, cheio de problemáticas e contradições, mas não são legendas, são partidos. 80% da população apoia o governo Dilma, o que é realmente muito estranho? O que isso significa? Significa alienação geral? O mundo é dominado por burgueses? O que é isso? Ou contrário, significa terrorismo, o mundo é dominado por petistas ignorantes e analfabetos. Muito engraçado isso. No governo FHC, além da dívida externa, também era um país de analfabetos e ignorantes. A pergunta que não quer calar: por que esse ódio mortal com PT? Não é com PT, o que mais me irrita, não é isso, o que é desastroso nessas análises tendenciosas. É que o ódio tenta atacar os dirigentes, mas acaba atacando toda a base petista, que é absolutamente comprovável, quem defende PT, não é burguês, é gente de favela, é pobre, é operário. Lula ser considerado um símbolo de um presidente pobre e operário é sinal de identificação, muito mais do que se imagina. Não é um símbolo qualquer, não é signo para se jogar no lixo. Atacar o PT desse jeito é um absurdo. Chamar petistas de burros e ignorantes é sinal de estupidez e intolerância de classe.

Concordo. O PT não é isento de críticas, mas também ele não é o vilão da novela mexicana que tentam criar. Diante dessa mídia, sabiamente por todos hegemônica e [invisivelmente] tendenciosa, a crítica ao PT não pode partir dos mesmos argumentos que são usados pela Direita. Não é assim que a contradição será exposta, a exibição disso deve ser posta por outros meios. Senão, eu sou capaz de acreditar que a extrema esquerda é na realidade um braço da grande Direita.

Antes de qualquer coisa, é preciso recordar o passado. Esse mistério político que é negado para essa geração, ninguém fala, ninguém comenta, ninguém sabe. A Ditadura Militar Brasileira deve ser posta no jogo, as cartas dos presos políticos no passado precisam estar na mesa. Imitarei Adorno, em Educação pós Auschwitz[1], o passado é muito farto. As condições estão dadas, as repetições da história podem estar acontecendo ou podem acontecer, mas as coisas precisam ser faladas. A juventude não pode mais viver nesse mundo de joguetes políticos, tagarelas intolerantes, pois fica difícil assim. A gente realmente não faz ideia de quem está no cenário político, jogamos o jogo com a pura intuição, correndo o risco do passado se tornar presente outra vez, mas usando outras máscaras.

De qualquer modo, terminarei o meu depoimento expondo o seguinte. Certa vez, estava conversando com uma amiga, ela falou uma frase que guardei na memória: “ eu sou revolucionária, voto nesses reformistas do PT por causa disso, para as pessoas que se fodem mais, não se foderem ainda mais. Posso não entender as Esquerdas, mas não tenho dúvidas que odeio a Direita”. Reitero o que ela falou, posso não entender de história, de política e não compreender as Esquerdas, mas não tenho dúvidas nenhuma que o inimigo é o mesmo. O inimigo é comum.  



[1] http://www.educacaoonline.pro.br/index.php?option=com_content&view=article&id=179:educacao-apos-auschwitz&catid=11:sociologia&Itemid=22

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