(isso não é uma tese, é um depoimento)
O
que mais incomoda hoje em dia é que eu não tenho ideia (e talvez medo) de
apoiar assumidamente qualquer partido político. Falar abertamente do que
representa PT, PSDB e etc, hoje em dia, é um debate infinito, acobertado por
uma série de hipocrisias, preconceitos estúpidos e ódios mortais. Não
conhecendo o processo histórico com absoluta firmeza. Vivenciando um momento de
booms (booms de ideias políticas, de preconceitos escancarados e de criações
estéticas esparsas), ficar perdida com tantos acontecimentos, apercebendo-se
uma fagulha de pó ao meio de tantas pedras sólidas e maduras, tem momentos que,
simplesmente, não sei o que fazer. Não sei o que falar, só tenho
perguntas.
Meu primo me deu o primeiro contato com política. Acho que estive
em uma passeata [eu acho] embaixo no MASP, defendendo imagino o PCdoB. Thiago
ainda conheceu com mais intensidade o governo FHC, eu conheci o Brasil-Lula e,
nesse momento, o Brasil pós-Lula. Sempre, ao PT, ouvi críticas negativas dentro
de casa. Muitas vezes, influenciada por minha família pensei em defender
partidos da oposição. Eu sempre gostei de ler, me interessava por textos de
ficção desde criança, então, quando entrei na faculdade a minha intenção sempre
foi, - talvez para preencher o espaço vazio desse passado brasileiro que
ninguém fala, - falar do Brasil, escrever sobre esse país, ler os escritores
daqui, conhecer as pessoas daqui.
O que eu quero, talvez, é falar o que significa viver essa
confusão de perspectivas, existindo no meio disso, tentando criar uma espécie
de dignidade e lucidez diante desse mundo de tagarelas que não estão
interessados em expor os pontos de vistas esquecidos. Julgam os inimigos sem ao
menos estabelecer as contradições. A impressão que eu tenho é que eu vivo
no mundo de tagarelas. Isso é um fato. Ninguém fala de passado nenhum, o nosso
passado é muito farto, mas o presente é muito desejado, no entanto, me parece
um tanto impalpável, invisível, muito indeciso. É um mundo de melodramas e
tagarelices.
Se
eu vivesse na metade do século XX, apoiaria sem pestanejar PCdoB ou PCB (reformistas x revolucionários; partidão x porra loucas) .
Ou mesmo, viveria como a Leila Diniz, amiga dos poetas, amante dos homens,
amada por cineastas. Porra louca total! Uma dessas vadias imortais no mundo e
que escancarou as contradições da esquerda. Tais contradições que ainda estão
presentes no dia de hoje, talvez mais abertamente, afinal vivemos num país democrático,
hoje os atores podem assumir os seus papéis e expor as suas plataformas
políticas no meio do teatro político. Nesse jogo, esse gênero cotidiano, mais
vivenciado pelos civis da sociedade, chamado política, é levado, até as últimas
consequências, a várias experimentações estilísticas e estruturais. Os jornais
brasileiros tendem a transformar esse jogo em melodrama. Já a extrema esquerda gosta de se fazer de
santa, transformando esse jogo em melodrama negativo, nem PT é confiável, nem
PSDB é, tudo é faria do mesmo saco. (Walter Benjamin chamaria esse fenômeno
social de estetização da política; aliás, ele diria que isso é um péssimo
sinal, que deveria acontecer o oposto, a politização da arte). Muitas esquerdas
insistem em falar que vivenciamos uma ditadura militar, não sei se por romantismo
ou por insistência em se tornar heroica. O
que é terrível, um país que precisa de heróis, é uma nação pobre e fragilizada.
De
qualquer modo, a zona de guerra mais conhecida no cenário político está entre
PT e PSDB. Ambos partidos políticos fortes, cheio de picuinhas, cheio de
problemáticas e contradições, mas não são legendas, são partidos. 80% da
população apoia o governo Dilma, o que é realmente muito estranho? O que isso
significa? Significa alienação geral? O mundo é dominado por burgueses? O que é
isso? Ou contrário, significa terrorismo, o mundo é dominado por petistas
ignorantes e analfabetos. Muito engraçado isso. No governo FHC, além da dívida
externa, também era um país de analfabetos e ignorantes. A pergunta que não
quer calar: por que esse ódio mortal com PT? Não é com PT, o que mais me
irrita, não é isso, o que é desastroso nessas análises tendenciosas. É que o
ódio tenta atacar os dirigentes, mas acaba atacando toda a base petista, que é
absolutamente comprovável, quem defende PT, não é burguês, é gente de favela, é
pobre, é operário. Lula ser considerado um símbolo de um presidente pobre e operário
é sinal de identificação, muito mais do que se imagina. Não é um símbolo
qualquer, não é signo para se jogar no lixo. Atacar o PT desse jeito é um
absurdo. Chamar petistas de burros e ignorantes é sinal de estupidez e
intolerância de classe.
Concordo.
O PT não é isento de críticas, mas também ele não é o vilão da novela mexicana
que tentam criar. Diante dessa mídia, sabiamente por todos hegemônica e
[invisivelmente] tendenciosa, a crítica ao PT não pode partir dos mesmos argumentos
que são usados pela Direita. Não é assim que a contradição será exposta, a
exibição disso deve ser posta por outros meios. Senão, eu sou capaz de
acreditar que a extrema esquerda é na realidade um braço da grande Direita.
Antes
de qualquer coisa, é preciso recordar o passado. Esse mistério político que é
negado para essa geração, ninguém fala, ninguém comenta, ninguém sabe. A
Ditadura Militar Brasileira deve ser posta no jogo, as cartas dos presos políticos
no passado precisam estar na mesa. Imitarei Adorno, em Educação pós Auschwitz[1], o passado é muito farto.
As condições estão dadas, as repetições da história podem estar acontecendo ou
podem acontecer, mas as coisas precisam ser faladas. A juventude não pode mais
viver nesse mundo de joguetes políticos, tagarelas intolerantes, pois fica
difícil assim. A gente realmente não faz ideia de quem está no cenário
político, jogamos o jogo com a pura intuição, correndo o risco do passado se
tornar presente outra vez, mas usando outras máscaras.
De
qualquer modo, terminarei o meu depoimento expondo o seguinte. Certa vez,
estava conversando com uma amiga, ela falou uma frase que guardei na memória: “
eu sou revolucionária, voto nesses reformistas do PT por causa disso, para as pessoas que se fodem mais, não se foderem ainda mais. Posso não entender as Esquerdas,
mas não tenho dúvidas que odeio a Direita”. Reitero o que ela falou, posso não
entender de história, de política e não compreender as Esquerdas, mas não tenho
dúvidas nenhuma que o inimigo é o mesmo. O inimigo é comum.
[1] http://www.educacaoonline.pro.br/index.php?option=com_content&view=article&id=179:educacao-apos-auschwitz&catid=11:sociologia&Itemid=22
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