Quatro
anos depois, a B. revê o Odisseu descendo a escada do metrô. Ambos pararam,
começaram a conversa curta. (De longe, qualquer um mais atento, recordaria de
uma música do Paulinho da Viola).
Odisseu - Tenho uma pergunta
B.– Qual?
Odisseu
- Você é você ?
B. -
Depois de você eu nunca mais fui eu, me tornei outra. Então, você ainda enxerga
o mundo como antes? Ainda sonha os mesmos sonhos? Ainda quer mudar o mundo?
Odisseu-
eu voltei da Argélia esses dias, os meus sonhos virou ruínas, o mundo parece
tão diferente agora. Você tá diferente!
B. –
onde está Francine?
Odisseu
– casou com um Francês
B. –
eu casei com um alemão, descasei, casei de novo com um baiano, depois que foi
embora. Mas agora... eu estou sozinha
Odisseu
olha os olhos grandes, imensos, decaídos no rosto. Esquecendo a lembrança dos
antigos olhos daquela mulher que, um dia, já fora sua amada. As mãos ainda pequenininhas,
menores que o corpo, mexendo e tremendo muito, ela sempre faz isso quando sente
o nervosismo atravessando a nuca. O corpo dela é frágil, qualquer toque parecia
que a estrangularia, lembrava um pássaro com frio e sem penas, todo encolhido
aos braços dele quando estavam na cama. Era essa lembrança que sentia quando se
aproximava dessa mulher. B. sentiu tristeza. Sabia que o presente recordaria o
passado, mas o desejo ia continuar no âmbito das ideias. O corpo pedia ele, mas
já o esquecia completamente.
B. –
eu tô atrasada, preciso correr
Odisseu
– o metrô tá chegando
B. –
a gente se ver
Odisseu
– a gente se ver
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