quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Terminações


Quatro anos depois, a B. revê o Odisseu descendo a escada do metrô. Ambos pararam, começaram a conversa curta. (De longe, qualquer um mais atento, recordaria de uma música do Paulinho da Viola).

Odisseu - Tenho uma pergunta

B.– Qual?

Odisseu - Você é você ?

B. - Depois de você eu nunca mais fui eu, me tornei outra. Então, você ainda enxerga o mundo como antes? Ainda sonha os mesmos sonhos? Ainda quer mudar o mundo?
Odisseu- eu voltei da Argélia esses dias, os meus sonhos virou ruínas, o mundo parece tão diferente agora. Você tá diferente!

B. – onde está Francine?

Odisseu – casou com um Francês

B. – eu casei com um alemão, descasei, casei de novo com um baiano, depois que foi embora. Mas agora... eu estou sozinha

Odisseu olha os olhos grandes, imensos, decaídos no rosto. Esquecendo a lembrança dos antigos olhos daquela mulher que, um dia, já fora sua amada. As mãos ainda pequenininhas, menores que o corpo, mexendo e tremendo muito, ela sempre faz isso quando sente o nervosismo atravessando a nuca. O corpo dela é frágil, qualquer toque parecia que a estrangularia, lembrava um pássaro com frio e sem penas, todo encolhido aos braços dele quando estavam na cama. Era essa lembrança que sentia quando se aproximava dessa mulher. B. sentiu tristeza. Sabia que o presente recordaria o passado, mas o desejo ia continuar no âmbito das ideias. O corpo pedia ele, mas já o esquecia completamente.

B. – eu tô atrasada, preciso correr

Odisseu – o metrô tá chegando

B. – a gente se ver

Odisseu – a gente se ver 

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