São Paulo, 2 de Março
de 2009
Sexta-feira. Às 12h.
Eu
estava na multidão, descendo as escadas rolantes. Liberdade (eu nasci aqui). E
aí? Pra onde eu vou? Amanhã, a minha prima vai se casar, preciso comprar um
vestido novo. Quero ir de preto. Descendo
as escadas rolantes, pensei: como eu não sou livre. A Liberdade é perigosa ou
incoerente? Livres são os marginais? Livres são aqueles que
controlam o Estado? Livres são quem têm fome?
Eu estava na rua, ao sol de meio dia, eu caminhava.
Quero
ir de preto. Um menino, mais novo, caminhava de encontro a minha direção,
bonezinho pra trás, pirulito na boca, caminhando em bando e, ao lado dele, uma menina cheia
de marra e dois molequinhos. Eles caminhavam em direção a patricinha,
menina mimada de Santana, não disseram nada, olharam nos meus olhos e
disseram:
-
passe o dinheiro ou qualquer coisa que tiver
-
não tenho nada – respondi tranquila – dou o meu celular
-
passa! Passa!
Dei
o meu celular, eles falaram que iam me matar. Eu caminhei até a banca de
jornal, tão tranquila, só chorei lá. Acho que de vergonha; acho que de piedade;
acho que de medo. Eita! Liberdade estranha é essa, cresci cheia de fantasmas e
cheia de medos.
Eu
estava na Liberdade, onde eu vivi a minha infância. Pensei: “eu tenho uma vida
branca à minha espera”, mas como eu não sou livre, como a minha consciência é
cheia de medos, como eu sou onipotente, desprotegida, cheia de bons valores e
comportamento de família classe média. Sou uma boa menina, como eu sou presa e
envergonhada, uma escrava que abana o rabinho pros mais velhos. Eu estava na
Liberdade, atravessei a catraca do metrô, usando os meus óculos escuros,
fingindo que enxergava o mundo e que entendia o mundo atual. Fingia que os meus
cabelos longos ao vento livre, me davam liberdade. Mas é tudo mentira, é tudo
teatro. É tudo inventado.
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