domingo, 12 de agosto de 2012

Liberdade


São Paulo, 2 de Março de 2009
Sexta-feira. Às 12h.

Eu estava na multidão, descendo as escadas rolantes. Liberdade (eu nasci aqui). E aí? Pra onde eu vou? Amanhã, a minha prima vai se casar, preciso comprar um vestido novo. Quero ir de preto. Descendo as escadas rolantes, pensei: como eu não sou livre. A Liberdade é perigosa ou incoerente? Livres são os marginais? Livres são aqueles que controlam o Estado? Livres são quem têm fome?

Eu estava na rua, ao sol de meio dia, eu caminhava. 
Quero ir de preto. Um menino, mais novo, caminhava de encontro a minha direção, bonezinho pra trás, pirulito na boca, caminhando em bando e, ao lado dele, uma menina cheia de marra e dois molequinhos. Eles caminhavam em direção a patricinha, menina mimada de Santana, não disseram nada, olharam nos meus olhos e disseram:
- passe o dinheiro ou qualquer coisa que tiver
- não tenho nada – respondi tranquila – dou o meu celular
- passa! Passa!
Dei o meu celular, eles falaram que iam me matar. Eu caminhei até a banca de jornal, tão tranquila, só chorei lá. Acho que de vergonha; acho que de piedade; acho que de medo. Eita! Liberdade estranha é essa, cresci cheia de fantasmas e cheia de medos.
Eu estava na Liberdade, onde eu vivi a minha infância. Pensei: “eu tenho uma vida branca à minha espera”, mas como eu não sou livre, como a minha consciência é cheia de medos, como eu sou onipotente, desprotegida, cheia de bons valores e comportamento de família classe média. Sou uma boa menina, como eu sou presa e envergonhada, uma escrava que abana o rabinho pros mais velhos. Eu estava na Liberdade, atravessei a catraca do metrô, usando os meus óculos escuros, fingindo que enxergava o mundo e que entendia o mundo atual. Fingia que os meus cabelos longos ao vento livre, me davam liberdade. Mas é tudo mentira, é tudo teatro. É tudo inventado.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário