Primeira parte
Uma turma de amigos, na faixa etária
entre 18 a 20 anos, alguns risos e alguns sonhos, celebrando as existências de
ruínas que tiveram até agora. A vida é uma piada. Uma música da moda ao fundo: “eu
quero tchu e tcha!”. E uma certeza exata
que pra ser feliz, só basta de pouco.
Um músico se levanta e diz:
- “Porra, O Celso Russomano está tão
feliz, repararam o sorriso no rosto dele quando ele fala que o Maluf não é
problema dele. O Russomano diz: pergunta pro Haddad sobre o Maluf, isso é
problema dele agora. O Maluf é a batata quente que ninguém quer segurar”.
Outra mocinha fala alto, blusa
vermelha e óculos escuros (uma patricinha!):
- “Apesar dos pesares, ainda prefiro
o capitalismo doce que a política do PT inventou. O Serra já era, gente”.
A Má reafirma:
-“Ainda prefiro o PT, o Serra é muito
ruim”
A turma falava desses assuntos banais
enquanto olhava uma notícia de Jornal sobre a declaração do Serra do bilhete
mensaleiro de Haddad. O menino cabeludinho, chamado carinhosamente pelas três
meninas de “Kazinho” ou “Trastinho”, finalmente pergunta para todas enquanto
pula em cima do pescoço de Roxinho: “Pra onde a gente vai?”
- “Porra, Vamo pra Cuba a pé!” (diz
Mari, aquela patricinha de blusa vermelha)
- “Se a gente continuar assim,
andando desse jeito, é capaz mesmo da gente ultrapassar fronteiras”. (Má ri, concordando
com Mari, as duas andam abraçadas pela calçada – sendo que tinham acabado de
virar amigas de infância).
Segunda parte
Roxinho começa a
cantarolar uma canção na mesa. Kazinho começa a batucar na mesa. Má também
acompanha a cantoria, Mari fica batucando e puxa a dançoria. Todos acompanham o
ritmo da música com o corpo, ficam fazendo isso por uns tempos. O Garçom se
aproxima e pergunta:
- “ eu quero ver a
carteira de identidade de vocês”
Todos mostram. Má não
consegue achar algum documento com foto na bolsa, mostra todos os cartões de
crédito e etc, até conseguir achar algum, finalmente compram as bebidas.
- “ é o que dá a gente
ter carinha de jovenzinhos. Né não!.. Garçom”.
O garçom responde com a
cabeça afirmativamente.
- “vamos pedir uma porção
de batata fritas”
- “alguma preferência de
cerveja?”
- “pra mim qualquer uma”
- “pra mim também. Será
que é mais barata que no outro bar? GARÇOM, quanto que é a cerveja aqui?”
- “ seis reais”.
A turma olha com o rosto de desconfortamento.
Mas dão risada logo em seguida.
- “ eu posso só pagar uma”
- “a Má já pagou a
primeira cerveja do último bar”
- “ é verdade! Deixa que
a Priscila quando chegar, pague todas as rodadas...”
- “ é isso aí, ela que
chega atrasada, ela que paga!”
- “ Então, gente, esse
papo está com a nota 9,18!”
Gargalham. O último bar
que eles estavam era lá embaixo da R. Augusta, chamado Pescador. Era um lugar mais
ou menos, mesmo assim, a cerveja era muito cara, só puderam beber uma
garrafa.
A Má virou o copo, olhou
e rindo disse:
-“nunca mais vou esquecer
aquele cara, vocês ouviram o que ele falou quando eu perguntei de onde ele era,
(as mãos em cima da mesa, os olhos fixos no copo, Má reproduzia o jeito do homem
misterioso do Bar Pescador): ‘eu vim dos seus pés’”.
Kazinho encheu um copo de
cerveja e colocou no meio da mesa:
-“esse é da Priscila,
ninguém mexe”
- “Poxa trastinho, que
maldade!” Todos riam. Mari cruzou as pernas lentamente, olhou o rosto de
Kazinho e Má, disse:
- “Então, eu quero saber
o nome da mãe de vocês, um por um:
1) Regina -
Kazinho disse
2) Maria – Má disse
3) Neide – Kazinho outra
vez, mas com uma voz de mulherzinha
4) Messias (Roxinho
imitava Mari nessa cena)
MESSIAS!”
Roxinho sentou com as
pernas cruzadas na cadeira. Deu risada e bebeu mais um pouco de cerveja. Mari arregalou os olhos, pegou as mãos de Roxinho e perguntou:
- “sua mãe se chama
Messias mesmo. Nossa! Não posso falar da bíblia aqui. Olha gata: eu rezei tanto
pra Deus pra aparecer alguma coisa boa e apareceu você, a filha de Messias”.
Mari deu risada, sentou
normalmente e colocou mais cerveja no copo. Roxinho disse:
- “poxa, o cara te pegou
pra Cristo...”
- “pois é, pegou mesmo.
Cara doido! Ele não parecia estar bêbado só, parecia ser outra coisa, o cara
conversava com Deus, você viu Má, ele dizendo que preferia morrer com essa
loucura, porque ninguém podia tirar dele a experiência de ter visto Nossa
Senhora”.
- “não parecia ser só
bebida mesmo não”
- “não era” – respondeu Kazinho.
Roxinho o interrompeu com olhar de seriedade;
-“Sabe o que o cara
parecia. Tipo um daqueles caras cheios da grana, muito rico, que perderam tudo,
teve que dividir a herança com mais quatro ou cinco pessoas. Só ficando com o
terreno dele e os pés de cajueiro, na maior decadência”.
- “tipo isso mesmo. Meu,
acho que ele era budista. Ele tava muito louco”
-“ se a gente deixasse,
ele ia beber mais cerveja nas nossas costas, viram a interpretação que ele
tinha feito, dizendo que tinha esquecido dinheiro em casa”
-“ não esqueça a perninha
cruzando” – Kazinho puxando a piada. Todo mundo rindo junto.
- “ e a mãozinha ao
vento, lembra Mari..”
- “lembro Má, ele falando
que não esperava mais nada da vida, já tinha perdido tudo. Aí Deus falou que ia
levar a mãe dele embora, (imitando o homem do Bar Pescador, a mão direita em cima
das orelhas e mexendo os dedos): ‘quer levar a minha mãe embora, então leve...
Adeussss!’ Não dá pra enfrentar a morte. Ela sempre ganha.”
Terceira parte
O homem do Bar Pescador é
careca, rebola a bunda enquanto anda, usa camisa branca, uma calça cinza toda
mixada. Um restinho de cabelos brancos na barba e atrás das orelhas, caminha
por entre os bares esperando que alguém o escute, procurando compreensão. Mas
todos fogem dele.
Segurando a mão da filha
de messias, ele olha nos olhos da mocinha, bem arregalados. Depois de ter
aberto o coração para aqueles jovenzinhos, espera o que deles? Segura nas mãos
da mocinha.
A mocinha diz: “Tá tudo
bem!?”
O homem do Bar Pescador responde: “Eu
preciso ir ao banheiro. Gente, eu vou, mas esperam, porque essa conversa está
com a nota 9,18”
A turma de amigos sai de
fininho, correndo na calçada já misturada com as cores noturnas. Eles gritam: “vamo
ver gente bonita, metida e descolada!”.
A patricinha diz: “Cara
doido! E ele: ‘sou contra o homossexualismo. Não, Não, não é contra, essa
palavra é muito forte. Mas eu não dou a bunda pra ninguém, um monte de gente quer
comer ela, mas não dou, não dou!... Eu só gosto de comer a bunda dos outros’”.
Roxinho diz: “ eu gosto
de ver gente assim, o povo do teatro me levava pra conversar com esse pessoal”
Kazinho: “ é capaz da
Mari fazer um conto sobre isso, do jeito que eu conheço essa menina”
Mari: “ Ei trastinho!
Vamo pra outro bar, o Kazinho paga tudo dessa vez!”
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